segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Come Back Little Sheba...

Os dramas familiares já renderam grandes filmes e este tem um lugar especial. Come Back Little Sheba, cuja tradução brasileira tira toda sutileza de significado do título, conta a história de uma santa dona de casa e seu marido alcoólatra. Ela perdeu uma criança e tem na cadelinha Sheba um pequeno consolo dessa perda. Há uma aparente instabilidade regendo a vida deste casal até que recebem como hóspede uma linda jovem, quebrando de vez a instável taça e o que se derrama são as frustrações de ambos. Falar mais que isso seria contar todo o filme. O drama do alcoolismo já foi assunto de filmes importantes como Farrapo Humano de 1945 e aqui rende um filme tocante, onde nos comovemos o tempo todo com Lola, sofrendo com por este marido em contínua recuperação. Burt Lancaster está bem no papel de Doc, mas é Shirley Booth que brilha com “o fogo de mil sóis” (citando Shakespeare). A sua interpretação, vencedora do Oscar, é um deleite, onde comove com pouco, apenas um olhar piedoso e carinhoso para o seu querido Doc; poucos atores são capazes desse feito, evocar com o olhar toda uma vivência do personagem. Um dos meus filmes preferidos.

Woman Under The Influence



O ator nova-iorquino, John Cassavetes, dirigiu alguns filmes, sendo o mais elogiado a produção independente Uma Mulher sob Influência, belo título e perfeita síntese da dona de casa Mabel, interpretada por Gena Rowlands, esposa do Cassavetes. A história do filme, escrita pelo próprio Cassavetes originalmete para o teatro, é um estudo, uma investigação sobre o amor e suas terríveis consequências quando os amantes sentem sua chama apagar devido à falta de comunicação. Na verdade não se apagou, apenas espera um sopro que não está sendo dado. A direção é informal, deixando a ação fluir tão naturalmente que encomoda; e houve espaço para improvisos. Muito no filme é dito nas entrelinhas, como a tal influência do título, exigindo um olhar acurado de nossa parte. O elenco está formidável, sendo que a impressionante atuação de Gena, indicada ao Oscar e vencedora do Globo de Ouro por este papel, já é lendária no cinema. Uma tormenta de tensões e emoções numa memorável atuação. O filme é obrigatório.

Desprendimento

Desprendimento, está é a palavra que eu estava procurando. Alguns atores às vezes nos brindam com maravilhosas atuações exatamente por conseguirem um nível altíssimo de desprendimento e mergulhar sem reserva alguma em seus personagens. Isso, por exemplo, aconteceu com Ruth Gordon em Ensina-me a Viver, com Brenda Blethyn em Segredos e Mentiras, com Ellen Burstyn em Réquiem para um Sonho e, para citar um ator, com Marlon Brando em Uma Rua Chamada Pecado. E acontece aqui com Geraldine Page. Não dá para acreditar que a simpática velhinha não seja real, de tão convincente; não é à toa que a atriz ganhou o Oscar por este papel. O filme é um Road Movie bem singular, que conta a história de uma velhinha que sente uma atração irresistível por seu passado. Não querendo mais viver na companhia de seu filho frustrado e de sua nora azeda, ela não espera mais uma permissão que sabe que lhe será negada e parte sozinha, de ônibus em busca de seu sonho. A viagem é repleta de surpresas emocionantes. Um filme maravilhoso, filmado com graça e simplicidade. Há um sentimento muito verdadeiro envolvendo esta película. O filme também conta com Rebeca DeMonay, fazendo um bom trabalho. Amantes do cinema, não percam O Regresso para Bountiful.