quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A Estranha Passageira


A Estranha Passageira (Now, Voyager, 1942) é um filme muito especial da Bette Davis num papel romântico, fugindo um pouco das mulheres terríveis que ela já fez. O melodrama conta a história de Charlotte Vale, uma solteirona retraída que foge da tirania da mãe (uma ótima Gladys Cooper, indicada ao Oscar de coadjuvante), para uma viagem ao rumo à América do Sul (o Rio de Janeiro incluso) e ao amor com um homem casado, Jerry. Jerry tem uma filha retraída, na qual Charlotte enxerga um pouco de si mesma no recente passado. Antes disso tudo, Charlotte passa por um tratamento psicológico que lhe transforma física e emocionalmente. Este amor não encontra certezas sobre sua duração, então deverá ser aproveitado intensamente enquanto dá. O filme tem momentos inesquecíveis, como a cena em que o ator Paul Henreid (Jerry) improvisa e acende dois cigarros ao mesmo tempo, oferecendo um a Charlotte. O jeito da personagem Charlotte fumar, foi por anos imitado por mulheres e travestis nos EUA. A elogiada trilha sonora, vencedora do Oscar, é um primor. E Bette Davis novamente indicada ao Oscar num desempenho encantador. Frases de Charlotte, que entraram para a história do cinema: “Oh, Jerry, não vamos pedir a lua. Temos as estrelas” e “Te beijaria agora, mas não quero estragar minha maquilagem”.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Baby Jane



Versão de 1991 para o clássico filme de 1962 O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane?). A história é seguida sem modificações e conta com ótimas atuações, já que se trata de Vanessa e Lynn Redgrave. As duas são irmãs na vida real e fazem um bom trabalho nesse pequeno filme feito para a TV.

Então esse tempo todo poderíamos ter sido amigas?





Bastidores

Já há muito tempo considerava Bette Davis a maior atriz de todos os tempos quando vi O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane? 1962). Claro que mais uma vez fiquei deslumbrado. Para mim, que sou ator, ver uma atuação tão soberba é um refrigério para espírito. O trabalho de Joan Crawford também é magnífico, mas Davis é um assombro. Na vida real, eram duas mulheres fortes, difíceis e eram rivais também, informação que dá um gostinho a mais, vendo o filme. Essa rivalidade gerou vários comentários e histórias cabeludas não comprovadas, como, por exemplo, algumas das bofetadas de Davis machucarem realmente a Crawford. Um fato que ocorreu foi Davis mandar instalar uma máquina da coca-cola defronte ao trailer de Crawford (o marido de Crawford era dono da Pepsi). Sem contar as frases de Davis sobre Crawford; a mais conhecida foi “Se Joan Crawford estivesse em chamas, eu mijaria nela para apagar o fogo”. O filme, tradicionalmente classificado como terror psicológico, conta a história de duas irmãs circundadas pela inveja, quando crianças, Blanche por Jane, e quando adultas, Jane por Blanche. Robert Aldrich (que tinha uma queda por esse tipo de história) fez um filme profundamente psicológico (desde a bela sacada, ainda nos créditos, da boneca Baby Jane quebrada na cabeça) mostrando o que esse sentimento, a inveja, pode fazer com as pessoas, corroendo-as a vida toda como um cancro que mata a alma. Outro problema das duas irmãs é a falta de comunicação (há uma grande virada no final, que nos dá uma lição sobre a importância da comunicação nas relações humanas;). Quando criança, a linda e talentosa Jane era a estrela da família e a princesinha do papai enquanto a pobre Blanche ficava sempre de lado, não sem que a mãe percebesse e é interessante como a mãe (também desprezada) das meninas percebe desde cedo no que tanto ressentimento acumulado vai dar. Jane, adulta, vira dama do teatro e Blanche, adulta, vira estrela do cinema numa época de reinado de Hollywood. Jane não consegue brilhar nas telas como brilha nos palcos e assim os papéis se trocam com Jane ficando na sombra de Blanche. Até que surge o misterioso acidente automobilístico que põe Blache numa cadeira de rodas. Outro pulo no tempo e agora vemos as duas irmãs idosas, Baby Jane Hudson cuidado de uma Blanche totalmente dependente dela. Blanche vive em estado de constante terror, sempre alerta à próxima maldade da irmã. O estado de terror é crescente e ficamos sem fôlego temendo pela próxima maldade de Baby Jane. O fato de Blanche estar indefesa na cadeira de rodas aumenta em muito nossa compaixão por ela. Sentimos de maneira poderosa que as duas se odeiam exatamente porque não podem se amar. E de que sentir mais pena? Da dor física ou da dor emocional? Um duelo de interpretações magníficas em que Davis venceu, sendo pela décima vez indicada ao Oscar. A sua Baby Jane é dos maiores personagens do cinema e responsável por cenas marcantes; numa delas Baby Jane serve o jantar de Blanche, quando esta levanta a tampa da bandeja encontra uma ratazana morta e grita horrorizada; Baby Jane está atrás da porta só esperando, quando houve o grito, começa a rir terrivelmente. Baby Jane se perdeu num passado distante e não quer sair dele; ela ainda se veste e se pinta como uma bonequinha. Ficamos consternados e com pena dela cantando como se ainda fosse criança I Writen a Letter to Daddy. Uma cena que nunca mais saiu da minha cabeça: Depois de cantar como criança, ainda em devaneios ela se depara com um espelho; ela vê a verdade; está velha e grotesca; não aceitando essa realidade ela começa a riscar o rosto com um lápis preto, como se destruísse sua própria imagem. Psicologia pura numa cena merecedora de Oscar. Amo demais esse filme e amo demais Bette Davis. Indicado aos Oscars de melhor atriz, ator coadjuvante, fotografia e som, venceu o de figurino.

Frases marcantes:

“Você não era feia. Eu a fiz assim.”

“Então esse tempo todo poderíamos ter sido amigas?”

Para quem quiser saber os detalhes das brigas entre Davis e Crawford, segue o link:

http://desvendandoestrelas.blogspot.com/2010/07/xi-bette-davis-as-brigas-entre-bette-e.html

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Duas Mulheres



Na Roma de 1943, quando começa o bombardeio por parte dos Aliados, Cesira, uma jovem viúva e sua filha, deixam sua pequena loja em busca de um lugar mais seguro no distante vilarejo onde nasceu. A difícil viagem é feita a pé e dura dois dias. Um tempo depois, tropas americanas se dirigem à Roma em tanques e muitas armas e Cesira pensa que as coisas melhoraram, decidindo voltar. Outra caminhada difícil e a pé. Em certo momento, numa sequência pesada, elas se abrigam à noite nas ruínas de uma igreja e são atacadas por vários soldados marroquinos que as estupram. Continuam como podem sua volta, quando sabem da notícia de que Michele, apaixonado de Cesira, foi morto pelos alemães; Cesira fica desolada. O filme Duas Mulheres (La Ciociara, 1960) pertence ao período neo-realista do cinema italiano, foi baseado no livro de Alberto Moraiva e tem direção do Vittorio De Sica. Trata dos infortúnios da guerra na vida dos civis. Sophia Loren, uma das mulheres mais linda do seu tempo e ainda hoje bela, tem um desempenho formidável premiado com o Oscar (a primeira atriz de língua não inglesa a ganhar o prêmio) e o Globo de Ouro.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Quanto Mais Quente Melhor


A cena da famosa frase...

Sempre ouvi dizer que Quanto Mais Quente Melhor (Some Like it Hot, 1959) era a maior comédia do cinema. Vi o filme recentemente e discordo de que seja a maior comédia de todas (talvez a minha preferida seja outra, também com Marilyn), mas não nego que é uma das maiores. O filme marcou época e entrou para a história do cinema mais uma vez pelas qualidades do seu realizador que mais de uma vez já afirmei, foi um dos maiores e mais modernos de todos os tempos, modernidade não só de pela qualidade técnica, mas pelos temas e intenções, Billy Wilde. Em proposital preto e branco, começa com uma virtuosa cena de perseguição e segue sempre em crescente como deliciosa comédia. Tony Curtis, ainda galã, está ótimo e travestido de Josephine faz memoráveis cenas com Marilyn Monroe. Marilyn está mais diva do que nunca, ícone absoluto da sensualidade feminina nas telas, nunca a vi tão bela, tão irresistível com sua Sugar Kane, nome apropriadíssimo; a cena do primeiro show no hotel, com aquele vestido que lhe revela os incríveis seios, é hipnotizante. E o que falar de Jack Lemmon? Claro que são dele as cenas mais hilariantes como Daphne, como a da “festinha” no navio em que as moças começam um ataque de cócegas e ele começa a berrar por socorro. Sobre as cenas do navio, impressiona como Billy Wilde foi provocador e isso em 1959, época em que a censura ainda dominava os estúdios; as cenas em que aparecem cardumes de pernas femininas, lindas sereias coristas, são mais que um ousio, são um afago e um beliscão no público; Wilde filma a malícia disfarçando-a de inocência e, assim, consegue driblar censores atentos e encantar platéias atentas ou não. Voltando à personagem de Lemmon, ele rouba muitas cenas quando longe de Marilyn, como a cena em que dança tango ou o final do filme com as famosíssimas frases sua e do impagável Joe E. Brown como o milionário assanhado Osgood, apaixonado de Daphne. Fiquei com uma pulga atrás da orelha com a relação dos dois. Teria Wilde aprontado uma conosco?
O filme venceu o Oscar de melhor figurino, sendo indicado para direção, ator (Jack Lemmon), direção de arte, fotografia e roteiro adaptado. Ganhou os Globos de Ouro de filme de comédia ou musical, ator de comédia ou musical (Lemmon) e atriz para a querida Marilyn. 

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Tropas de Elite 1 e 2



Bem, confesso que nunca gostei de (Tropa de Elite, 2007) desde os primeiros minutos que “ouvi” umas falas do filme. Meu cunhado comprou o DVD pirata do filme e todos acharam que era um filme tipo meio ficção meio documentário, pois mostrava os “bastidores” do BOPE etc. Eu odiei o texto que vinha da sala (não gosto desse tipo de filme). Depois comecei a ver o filme por conta dos comentários e por causa das piadas, eu sou estudante universitário, então eu mesmo fiz várias piadas com aquela cena em que eles dão na cara do rapaz que diz que é estudante; eu dizia que aonde chegasse ia dizer que era estudante só pra apanhar, rsrsrs. Depois de um bom tempo o filme ficou famoso e entrou nos cinemas, sendo um grande sucesso, mas sempre o achei medíocre em qualidade e intenção, e critiquei esse endeusamento do BOPE, isso sim é ficção de primeira (tomara que o BOPE não leia este blog). Esse segundo filme (Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro, 2010), chega com grande preocupação com a pirataria que fez a fama do primeiro. Foi uma surpresa. O filme é bom, muito superior ao primeiro e não porque diminuiu na truculência, mas porque capricharam no roteiro. É um roteiro à guisa do cinema americano (não que isso seja sinal de qualidade), bem amarrado e com desfecho interessante. Uns fatos e teorias são bem bobos, como aquela conta que o professor de história faz no começo e o fim do tráfico; aquela conta é feita desde que o mundo é mundo e só pode ser observada na teoria, e o tráfico (vício) acabar é uma utopia, até na ficção soa no mínimo ingênuo. Gostei da câmera voando (travelling) sobre Brasília no final da película, indicando a fonte do MAL. Enfim, gostei do filme, tem ação discreta, bom roteiro, edição ágil, direção mediana e elenco esforçado. Sobre a violência, falei que era menos truculento, mas não menos violento. A violência não vem só de imagens de corpos levando tiros e sangue na tela, mas sim da força de um texto ou do contexto de uma imagem; a cena do bandido arrancando os dentes de um crânio para dificultar o reconhecimento, me pareceu, pela banalidade da ação, muito mais violenta que qualquer cena de tiroteio do primeiro filme; e a cena ainda brinca com o famoso trecho do Hamlet. O filme grita com os traficantes, com os políticos, com o sistema e bandidos em geral, os acusa francamente, e sabe qual é o grande absurdo de tudo? Os traficantes, políticos e bandidos em geral, vêem o filme, são fãs, e até torcem pelos mocinhos; ignoram que estão sendo retratados na tela, não acham que é com eles, talvez por não acharem que fazem algo errado na vida real ou então por um cinismo absoluto. Isso acontece muito com as músicas do grupo Racionais, os fãs do grupo, os que mais cantam as músicas, são justamente os acusados nas letras, eles não se dão conta disso, pelo contrário, acham que é um tipo de louvor a tudo que fazem. Há um humor sempre bem-vindo, aliviando a barra pesada, e este humor se manifesta principalmente no uso de palavrões e gírias: “pombagirando”, “quer me foder, me beija”, são exemplos. Quanto ao didatismo do filme, que acontece com a narração do Nascimento, esse é um filme para o povão, então eles usam o didatismo, aprendido no cinema americano, já visando ou imaginando o tipo de público que terão. O didatismo é usado com brilhantismo nos filmes do Tarantino, e se outros realizadores não conseguem alcançar o mesmo brilho, pelo menos houve uma fagulha de boa intenção. E ao título dizer que o inimigo agora é outro, não cabe a pergunta: E antes não era? Bem, acho que o filme deve ser visto, pois rende bons debates e isso é raro no cinema de hoje, mormente o nacional. Ah... ia esquecendo: a morte do Matias foi um deleite para mim.

domingo, 10 de outubro de 2010

Tudo sobre Eve







Bette Davis é famosa, sobretudo, por suas grandes vilãs e esse filme contribuiu para aumentar essa fama entre o público brasileiro desavisado, por causa do título do filme, A Malvada (1950); já que ela é a estrela do filme, pensavam que a malvada da história seria ela. O título “A Malvada” já está gravado em nossas mentes e nem nos ressentimos dele; mas vamos concordar que o título original All About Eve “Tudo Sobre Eve” é maravilhoso. O título sugere um dossiê e é isso que veremos na tela. O filme começa mostrando a elite do teatro reunida em Nova York, para uma importante cerimônia de premiação do teatro. Estão presentes Margo Channing, uma importante atriz da área e Eve Harrington, a triz mais jovem que ganhará o prêmio. Karen, amiga de Margo, e esposa do dramaturgo Lloyd Richards, é que relembra, através de flashbacks, tudo sobre Eve; a sua escalada rumo ao estrelato através da aproximação de Margo, como uma fervorosa fã. Eve não faltava a nenhuma apresentação de Margo. Uma noite, depois de mais uma apresentação, Karen pede a Margo que conheça uma grande fã sua. Eve, um poço de bondade e devoção, conquista Margo e vira sua secretaria particular. Nem todos caíram na conversa de Eve, pois Birdie, a acídula camareira de Margo, percebe algo de errado na moça e tenta alertar a patroa. Sempre tramando, Eve consegue, através de Karen, virar substituta de Margo no teatro e, um dia, quando Margo perde o trem, Eve se apresenta em seu lugar. Os jornais noticiaram a grande estréia de Eve nos palcos e esta dá entrevista criticando atrizes mais velhas que insistem em atuar em papéis que não estão de acordo com sua idade. Margo, cuja simpatia por Eve já vinha a algum tempo se tornando em hostilidade, fica mais irritada do que nunca. A cena da festa, em que Margo está soltando faíscas e ironias por tudo que é lado é talvez a mais famosa do filme. Suas falas, a maioria em relação à idade de Eve, são deliciosas. É nessa festa que aparece, em uma de suas primeiras aparições na tela, fazendo numa ponta, a figura de Marilyn Monroe, que se tornaria o maior ícone sexual do cinema. A inescrupulosa Eve continua em frente com seus planos, agora querendo tomar Lloyd, o marido de Karen, para que escreva peças onde o papel principal seja dela. O crítico teatral, Addison DeWitt, querendo Eve para si, investiga seu passado e descobre que a moça tem muito a esconder. Ele a chantageia e ela tem que ceder, tornando-se vítima do seu próprio veneno. Voltamos à cerimônia de premiação. Ela vence. O clima de amarga vitória é maravilhoso. Margo, magnânima a cumprimenta. Quando volta ao seu apartamento, Eve encontra uma bela e jovem adolescente chamada Phoebe, presidente de seu fã-clube... Filmes sobre os bastidores da fama sempre me atraem muito. A Malvada é, com certeza, um dos maiores filmes já feitos. Direção impecável do grande Joseph L. Mankiewicz (responsável também pelo roteiro); o elenco é irrepreensível: Anne Baxter, Gary Merrill, George Sanders, Hugh Marlowe, Celeste Holm e Thelma Ritter; Bette Davis mítica (melhor atriz em Cannes). Indicado a 14 Oscars: filme, direção, atriz (dois, para Bette Davis e Anne Baxter), atriz coadjuvante (2, para Celeste Holm e Thelma Ritter), ator coadjuvante, roteiro adaptado, direção de arte, fotografia, edição, som, trilha sonora e figurino; venceu: filme, direção, ator coadjuvante, roteiro adaptado, som e figurino.

A razão escrava da paixão




O filme, Escravos do Desejo (Of Human Bondage, 1936), também é conhecido pelo título Servidão Humana, que é a tradução mais correta do título original do livro de William Somerset Maugham (não confundir com A Condição Humana, livro de André Malraux). O livro, além dessa adaptação, teve outras duas, uma 1946 e outra em 1964. Um homem bom, Philip Carey (Leslie Howard, ótimo), se submete aos caprichos de uma garçonete amoral. Nessa servidão, ele perde quase tudo na vida, sem nunca ser verdadeiramente retribuído por ela. E quem poderá julgá-lo ou criticá-lo? Quem já não esteve preso nesses laços ilusórios do amor, os mais difíceis de romper? O filme foi moderno para a época ao tratar do tema de maneira muito simples e realista. Apesar de ter feito outros filmes antes, essa é considerada a verdadeira estréia da Bette Davis no cinema. Ela obteve sua primeira das dez indicações ao Oscar. Bette Davis tem um recorde ainda não igualado de ter sido indicada por quatro anos consecutivos. Mas a indicação por Escravos do Desejo não veio fácil. Ela não foi contada na lista de indicadas daquele ano (trama da Warner). Mas como toda a imprensa e o meio cinematográfico acharam um absurdo, seu nome foi inserido no outro ano (coisa semelhante aconteceu com o filme Cidade de Deus). Uma crítica chegou a dizer na época, que aquela fora a melhor interpretação feminina jamais vista no cinema até então. A cena em que depois de desprezada por Philip, Mildred, enfurecida, atira-lhe na cara uma enxurrada de ofensas, é arrepiante. Não deixem de conferir.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Jezebel



Na Nova Orleans de 1852, Julie Marsden, uma jovem e impetuosa aristocrata, escandaliza a sociedade, não seguindo as convenções sociais de seu tempo. Isso afasta seu noivo, que viaja para Filadélfia, retornando depois de uns anos, já casado. Dominada pelo orgulho ofendido, pelo ciúme e pela vingança, ela começa um caminho autodestrutivo, atingindo as pessoas em sua volta e a si mesma. Uma epidemia de febre amarela lhe dá chances de fazer o bem e se redimir. O título do filme (Jezebel, 1938) é perfeito em sua referência bíblica. Ótimo filme de cores sulistas dirigido por William Wyler, com grande atuação de Bette Davis, que lhe valeu o Oscar. Oscar também de atriz coadjuvante para Fay Bainter e indicado para filme, fotografia e trilha sonora.

domingo, 19 de setembro de 2010

Ninguém dá as costas a uma estrela!







Hollywood é uma selva repleta de animais antropófagos. Animais desleais, famintos e insaciáveis e que, no entanto, são capazes de fazer magia nas telas, onde passam de animais ferozes a deuses belos e majestosos, e igualmente ferozes, insaciáveis. A sagacidade e ousadia de Billy Wilde foram capazes de retratar fielmente essa selva olímpica, este Olimpo fero. Outros filmes também tratam dos bastidores da indústria, como Cantando na Chuva (Singin' in the Rain, 1952) ou A Malvada (All About Eve, 1950), que especificou a selva do teatro, mas nenhum mostra esses bastidores com argúcia tão acídula quanto Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950). Tanto o título original quanto o brasileiro são belos e felizes em significado. A história surpreende já no começo, aonde Gillis, já morto, vai narrando os acontecimentos em flashbacks. Ele foi um roteirista, mais especializado em argumentos, que sem idéias frutíferas e perseguido por credores, acaba indo atrás de Norma Desmond, estrela mor do cinema mudo e que agora vive em ostracismo, olvidada por profissionais da área e fãs. Norma sonha com uma volta em grande estilo, num filme do grande diretor Cecil B. DeMille, e tudo que Gilles tem a fazer é iludir-lhe com essa volta ao estrelato; enquanto isso ele torna-se o gigolô de Norma. Nesse, mais que em qualquer outro dos seus filmes, Wilde mostra-se como um dos diretores mais modernos e ousados do cinema, fazendo um profundo estudo dos grandes mitos de uma indústria ingrata com esses mesmos mitos que a edificaram. Nesse drama com toques noir, Wilde, que também trabalhou no roteiro, joga com verdade e ficção todo o tempo, mesclando sonho e realidade com perícia impressionante. A presença do próprio Cecil B. DeMille, como a escolha de Gloria Swanson para o papel de Norma, são idéias brilhantes e exitosas. Glória Swanson se identifica muito com sua personagem, são dela as memoráveis falas “We didn't need dialogue. We had faces!”, “All right, Mr. DeMille, I'm ready for my close-up” (cena chave) e, mais que todas, “I am big. It's the pictures that got small.”; ela mesma foi uma grande estrela do cinema mudo, sofreu com a transição para o cinema falado e acabou esquecida. Gloria fazendo Norma, ou seja, ela mesma, nos apresenta uma construção maravilhosa e tem o primoroso detalhe da interpretação de Norma no glorioso final da película, onde ela desce as escadas já sem noção de realidade, interpretando uma cena do que pensa ser Salomé; o primor de toda a cena está no seguinte: Max von Mayerling (Erich von Stroheim), fiel “mordomo” de Norma, a avisa que as câmeras já estão prontas para a ação, e então ela desce gloriosa carregando muitíssimo nos esgares; na verdade ela vai para a prisão e os flashes são dos fotógrafos de tablóides, mas o fiel Max (que por tanto tempo manteve Norma num limbo, lhe alimentando de mentiras e cartas de fãs que ele mesmo escrevia) percebe o triste estado dela e a mantem no limbo até o fim. Os esgares são exagerados porque a interpretação no cinema mudo tinha quer ser, à guisa da interpretação de teatro, muito exagerada ou expressiva; O próprio Erich von Stroheim foi um grande diretor de filmes mudos, e o filme traz além de Gloria e DeMille, que é mostrado no set real das filmagens do clássico Sansão e Dalila (Samson and Delilah, 1949), outras lendas como Buster Keaton, Anna Q. Nilsson, H.B. Warner, Hedda Hopper, Jay Livingston e Ray Evans. O tom noir vem da tensão dos personagens, do tom corrosivo dos diálogos e da mansão de Norma, digna da senhora Havisham de Grandes Esperanças. Erich von Stroheim está perfeito no filme, assim como William Holden e Nancy Olson. O filme ganhou Globo de Ouro de filme, direção, atriz e trilha sonora, e venceu os Oscars de roteiro original, direção de arte e trilha sonora, sendo ainda indicado para filme, direção, fotografia, ator e atriz coadjuvantes, edição, ator e atriz (este ano teve umas das disputas mais acirradas, pois Bette Davis e Anne Baxter concorreram com A Malvada, onde Davis, a favorita não ganhou; quem venceu foi Judy Holliday com Nascida Ontem – Born Yesterday; a outra concorrente foi Eleonor Parker com À Margem da Vida – Caged!; perco-me em citações, pois são atrizes maravilhosas em filmes idem, que não se fazem mais iguais, o que faz repensar a frase de Norma “Eu sou grande, os filmes é que ficaram pequenos”) ; no ano seguinte, seria a vez de Vivien Leigh ganhar o Oscar com Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire,1952), em que, no final, a personagem Blanche DuBois, assim como Norma, abandona a dura realidade para se refugiar na fantasia. Ambição, vaidade, obsessão pela estética, idade, narcisismo entre outros, são temas abordados com maestria nesse tesouro do cinema, representante de uma época de apogeu não mais atingido hoje. O grosso do cinema de hoje nem sequer é crepuscular, visto que esse estado representa ainda uma transição, enquanto que a situação hoje já está definida. Que bom que a nostalgia e o saudosismo ainda podem se consolar no passado.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Os Outros





Alejandro Amenábar escreveu e dirigiu Os Outros (The Others, 2001) dando ao cinema um dos seus melhores terrores psicológicos e a Nicole Kidman a oportunidade de se firmar de vez como grande atriz (no mesmo ano ela fez Moulin Rouge, com o qual foi indicada ao Oscar num ótimo desempenho, mas inferior a este em que foi indicada apenas ao Globo de Ouro). O filme tem seu primeiro acerto no título. Quando se pensa em outros, pensa-se logo em personagens que não os principias, isso ajudou a proteger o segredo do filme, que realmente causa grande surpresa no final, mesmo para quem já viu o filme Ilusões Perigosas (Haunted, 1995), que já trazia semelhante desfecho. O filme mostra Grace, uma mãe tensa e superprotetora, que espera anelante o retorno de seu marido. Sua filha começa a ver outra família habitando a mansão, estabelecendo o terror. O diretor tem um bom roteiro nas mãos e bilha quando causa calafrios na platéia usando elementos tradicionais do gênero, mas com uma economia e requintes primorosos: a velha mansão, dessa vez ainda mais sombria, devido à fotofobia dos filhos, as portas sempre rigorosamente fechadas, os criados suspeitíssimos e o brilhante uso da neblina em uma cena arrepiante em que o diretor nos confunde e assusta com uma aparição das mãos da própria Grace. O filme assusta com sugestões, não com efeitos e sons no máximo. Além do brilhante desempenho de Nicole, também se destacam Fionnula Flanagan como a governanta e Alakina Mann como a solerte filha de Grace. Grande filme.