sábado, 30 de janeiro de 2010

Trindade Violenta

Uma trindade realmente violenta, num bom faroeste filmado com verossimilhança e sensualidade. Aqui os conflitos emocionais estão em primeiro plano e não poderão ser resolvidos na bala. No elenco, grandes nomes: Anne Baxter, Charlton Heston e Gilbert Roland.

“Você está agora no céu e na terra, Bernadette”

Dirigido por Henry King, A Canção de Bernadette é um belíssimo e comovente filme, mesmo para não católicos, como eu. Conta a história de Bernadette Soubirous, uma moça asmática de 14 anos e suas visões em Lourdes, de uma senhora que pede graças e roga pela humanidade. Mesmo a população achando que a visão se trata da virgem Maria, o fato não teria grande importância não fosse a jovem ter dito que perguntando o nome da tal senhora, esta lhe respondeu Imaculada Conceição. Isso gera um formidável debate acerca das palavras imaculada e conceição (concepção sem mancha ou sem pecado). Os homens da igreja concluem pela verdade da moça, já que esta é uma laica analfabeta, não podendo ter ciência do significado de tais termos. Seguindo orientações da visão, Bernadette escava o solo de uma gruta, fazendo brotar água; este é o primeiro dos milagres que mudam a vida da jovem, pois em torno dela se formam romarias em busca de graças e milagres. Bernadette acaba indo para um convento; lá descobre a figura de uma freira terrivelmente amarga que lhe tem fervorosa inveja, pois Bernadette é jovem, linda, pura de coração e ainda teve a graça de receber as visões. É aí que acontece a mais comovente cena do filme para mim: a freira, que um dia perguntou a Bernadette o que ela entendia de sofrimento, descobre mais tarde que a vida de Bernadette não é esse aparente mar de rosas e que a pobre moça padece terrivelmente (um tumor no joelho diagnosticado como tuberculose no joelho, coisa dolorosíssima). Bernadette morre jovem. O arrependimento da freira passa muita verdade e nos parte o coração, numa interpretação maravilhosa de Gladys Cooper. A atriz Jennifer Jones, uma novata no cinema, também apresenta uma grande interpretação, que ganhou o Oscar. Oscars também venceram as maravilhosas música, fotografia e direção de arte. Um imperdível clássico da época de ouro de Hollywood.

O Manto Sagrado

Um dos maiores e mais belos épicos bíblicos do cinema, indicado ao Oscar de melhor filme. É a história do centurião que recebeu de Pilatos a ordem para crucificar Jesus Cristo. Depois de cumprida a ordem, a vida deste soldado nunca mais será a mesma. O simples contato com o manto que cobriu o corpo de Jesus abre-lhe os olhos para a verdade. Cenários e figurinos são magníficos e venceram oscars. Uma das principais atuações do Richard Burton, também indicado ao Oscar. Uma passagem em especial é uma das mais belas e comoventes do cinema: uma paralítica, seguidora do Salvador, é perguntada sobre o porquê de sua fé, já que este Salvador não a tirou de sua triste condição. A sua resposta é tão bela quanto profunda, nos dando muito que pensar e rever em nossas vidas. Uma grande lição. Primeiro filme rodado em CinemaScope. Vejam o filme para saber a resposta. Vale muito a pena.

Os Dez Mandamentos

Um poderoso épico de 1956, do Cecil B. DeMille. Soberbo em cenários e figurinos. A cena da divisão do Mar Vermelho maravilhou as platéias por décadas. Oscar de efeitos especiais. Para o papel de Moisés, o diretor chamou Charlton Heston, segundo ele o único ator com força de caráter o suficiente para encarnar um perfeito Moisés. O inesquecível Yul Brynner está perfeito como Ramsés.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Criaturas Celestes

Almas Gêmeas (Heavenly Creatures, 1994), é o terceiro e elogiado filme de Peter Jackson, sendo considerado por muitos seu filme mais complexo, mais ainda que a trilogia O Senhor dos Anéis; não concordo com essa opinião, talvez seja o roteiro mais complexo, mas não o filme mais complexo, há uma diferença aí. O filme conta a história da uma grande e estranha amizade que terá trágicas conseqüências. A história começa em 1952, mostrando a vida pacata e banal de uma localidade da Nova Zelândia, antes de se descortinar o crime que chocou o país. Pauline é uma retraída jovem de 14 anos que vê sua vida mudar com a chegada de Juliet, uma jovem inteligente e muito vivaz. Pauline se encanta de cara com Juliet, dando início a uma profunda amizade, mostrada entre 1953 e 1954. Para Pauline, tão reclusa em si mesma, conhecer alguém com quem tenha afinidades, como o gosto por leituras sobre Biggles, é algo novo e delicioso. Ao saber que Juliet ama o tenor italiano Mario Lanza, Pauline volta pra casa em êxtase e corre para ouvir o tenor, que também ama. Esse tipo de cumplicidade na juventude é algo muito poderoso. Juliet é “desvirtuante” e tem um certo desequilíbrio que transmite a Pauline. A amizade torna-se cada vez mais forte, indo muito além da simples amizade para torna-se um amor obsessivo. Uma trilha sonora vigorosa, com muito de Mario Lanza, embala-as sempre mostradas em movimento num mundo só delas, que o chamam de quarto mundo, para onde fogem da realidade de um mundo cheio de pessoas que segundo Pauline “Notamos como é triste para os outros não poderem reconhecer nossa genialidade”. Há outros trechos tirados do diário da própria Pauline; ela ganha o diário do pai na noite de Natal e passa a relatar toda sua amizade com Juliet. Esse diário teve serventia para muita gente: para Pauline, que despejava nele todo o fogo dessa paixão; para a polícia, como prova do crime cometido pelas amigas; e por Peter Jackson, que se baseou nele para escrever, junto com a esposa, o roteiro original do filme, roteiro indicado ao Oscar. O filme é contado pela ótica de Pauline e a narração usa trechos do diário. Além do diário, outros elementos reais usados por Jackson, foram os locais em que aconteceram os fatos e que ele usou como locações. A mãe de Pauline, feita pela ótima Sarah Peirse, é a primeira que sente o mal dessa amizade. Ela será o objeto em que Pauline descarregará mais tarde todo seu ódio pelos obstáculos que impedem a plenitude de seu amor com Juliet. O pai de Juliet é outro que percebe algo não saudável com as duas amigas e decide junto com os país de Pauline pela consulta de um especialista. O diagnóstico é bombástico: homossexualidade. Tudo concorre para separá-las, a proibição da família de que se vejam, a tuberculose de Juliet (“Seria ótimo se eu tivesse com tuberculose também”), que a obriga a internação, a futura viagem forçada de Juliet para a África do Sul e até um certo pretendente ao amor de Pauline, o que enche Juliet de temor. Mas nada será mais forte que o amor das duas. Jackson, que desde cedo tem mostrado um gosto pela fantasia, mostra com muita criatividade o mundo particular para onde as personagens fogem, ou para se amar (uma ousadia de Jackson) ou para matarem seus desafetos. As duas, nesses momentos de fantasia, são mostradas sob uma luz mágica, onírica, que as torna celestes. Há uma divertida evocação a Orson Welles, que Juliet odeia por ser um homem pavoroso e que Pauline, confessa no diário, que adora, talvez por identificação. Há um cuidado com a reconstituição de época e Jackson dirige o filme salpicando aqui e ali um detalhe, como se nos indicasse que tal hora ou que tal objeto tivessem destaque no diário de Pauline. A sequência final é em tom de primoroso suspense. O crime bárbaro acontece, e somos informados que o júri recusou a alegação de insanidade das duas, apesar dos sinais de evidentes de perturbação, como, por exemplo, a grande indiferença de Pauline horas antes do crime, chagando a anotar no diário “O dia do grande acontecimento”. Não podendo ser condenadas a morte por serem muito jovens, elas cumprem suas penas e ambas são soltas em 1959, com a condição de nunca mais se encontrarem. O filme é bem conduzido, bem escrito, ganhou vários prêmios pelo mundo e foi uma ótima estréia da nossa querida Kate Winslet no cinema. A atriz Melaine Lynskey também está ótima como a reclusa Pauline. E com as palavras de Pauline termino: “Descobrimos por que temos essa telepatia e por que as pessoas nos tratam assim. É porque somos loucas! Completamente loucas!”

LILIAM, A SUJA

Ela é safada, ela é devassa, ela morde, ela mente para a mãe. Ela é Liliam, a Suja. Liliam tem um trauma de infância não resolvido relacionado com o pai e aprendeu a “canalizar” este ódio matando outros homens. Quando seus olhos ficam vidrados é hora de Liliam decepar o pênis de sua vítima, seja a navalhadas, seja a mordidas. Liliam gosta de amordaçar os homens na cama e depois furá-los, linda, cavalgando-os com seus cabelos loiros; isso tudo muito antes de pensarem em fazer Instinto Selvagem. Então, satisfeita, ela joga no cadáver uma rosa vermelha, apanhada de seu jardim, e escreve no espelho: “LILIAM, A SUJA”. Quando a polícia chega, imagina que possa ser um travesti. Um filme saído direto da Boca do Lixo, Liliam, a Suja, fora o que já foi dito, conta a história de uma mulher que trabalha para sustentar a casa e sua mãe inválida, tendo que vez ou outra se submeter aos caprichos do chefe. Filme regado a muita nudez e sexo. Mostra também as “aventuras” de três bandidos tão ordinários quanto o filme. O resultado geral é tão tosco, ordinário e cafajeste, que chega e ser muito divertido ver nos dias de hoje; há todo um modo de falar e de vestir que difere muito da nossa atualidade. De todo o elenco a melhorzinha é a Lia Furlin, que faz a Liliam; o restante é ruim de doer, a ator que faz o chefe de Liliam faz uma das piores cenas de morte que eu já vi; a mãe de Liliam de quando a vê morta, não é capaz de imitir nada que vá além de um menear de cabeça. Cinema nacional sujo e cafajeste da melhor qualidade, rsrsrsrrs! Não percam!

Eles chegaram perto demais

Closer é um filme muito inquietante, talvez por que nos deixe muito próximos da banalidade do amor, muito "closer". Situações intoleráveis às vezes por as acharmos muito simples e que os personagens as vivem como algo profundamente complicado. Mas se nos inquieta tanto é porque em nosso âmago sabemos que são sim complicadíssimas. O recôndito do nosso coração é feito por trilhas oras retas ora sinuosas, nunca nos dando total confiança no caminho. Temos sempre muitas dúvidas, assim como os personagens do filme, que querem o tempo todo saber, mesmo sabendo que as respostas podem ser duras. A direção é de um mestre em retratar difíceis relações pessoais, Mike Nichols. A trilha sonora é das mais interessantes e o elenco é formado por um quarteto maravilhoso onde se destacam mais Natalie Portman e Clive Owen.

Falso brilhante

A cultura americana é frágil e preconceituosa ao extremo, embora queira passar ao resto do mundo que é o contrário disso. Aí chega um filme como Crash, frágil e pretensamente anti-preconceituoso, os americanos se identificam, pois o anti-preconceito do filme é o mesmo do deles, e a Academia premia o filme com o Oscar; um Oscar que deveria ter ido para uma obra-prima, como O Segredo de Brokeback Mountain, e não foi, justa e ironicamente por preconceito. E preconceito é a única explicação possível, já que é gritante a superior qualidade cinematográfica de Brokeback Mountain. Crash é um filme muito bonito, tem uma trilha sonora multi-étnica, para dizer que todos são iguais, tem uma direção que conduz ao sentimentalismo, e um roteiro de um cara bom em roteiros, o Paul Haggis (que aqui foi rasteiro). Mas isso não o torna melhor que os filmes que concorreram com ele. Em certos momentos, o filme tentar copiar Magnólia (na estrutura e utilização da música), esse sim um grande filme, que toca profundamente em questões difíceis, sem precisar de alardes soando falsos. Repito que é um filme muito bonito, mas que o tempo todo soa falso. Ele força a barra. Apela demais. Quanto ao elenco de muitos nomes conhecidos, gosto da atuação de Sandra Bullock e de Matt Dillon, no filme.

Alice Não Mora Mais Aqui


Alice é uma dona de casa infeliz e frustrada, que vê na morte do marido um caminho de libertação e ponte para realização de sonhos antigos. Ela pega seu filho de onze anos e parte para a Califórnia para tentar uma carreira de cantora. No caminho, se envolve com um homem casado e violento, o que a obriga a uma fuga. Durante o caminho se vê obrigada a nova parada, arruma emprego como garçonete, conhece uma grande amiga e depois um novo homem. Desta história nada excepcional, Martin Scorsese fez um filme muito humano e maravilhoso, precioso em detalhes e com a interpretação primorosa de Ellen Burstyn, que ganhou o Oscar por este trabalho.

Desejo Proibido

Desejo Proibido é um bom filme que mostra o amor entre mulheres através de três histórias em épocas distinatas, 1961, 1972 e 2000. A primeira história é a mais inusitada e marcante, por mostrar o amor entre mulheres na terceira idade. Edith, interpretada pela grande Vanessa Redgrave, tem que aprender a lidar com a perda da parceira falecida recentemente. Ela lembra o tempo todo dos bons momentos e até das pequenas discursões. Tudo muito verdadeiro. O filme tem ainda no elenco Chloë Sevigny, Michelle Williams, Ellen Degeneres e Sharon Stone. Chamou atenção na época do lançamento e foi mais uma mão a afrouxar o apertado laço do preconceito.

Íntimo e Pessoal

Com fantástica química entre Michelle Pfeiffer (especialista em personagens sofredoras) e Robert Redford, esse filme pequeno, mas muito especial, mostra o medo que o amor dá. Mostra, também, com seu triste final, quão terrível deve ser encontrar um amor tão arrebetador e ainda inflamado por ele, perdê-lo de repente. Nossa que dor! A música altamente sentimental da Celine Dion (ganhadora do Oscar) só faz ajudar o choro. Vejam com lencinho.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

As horas, os minutos e os segundos de Virgínia em sua vida, na de seus personagens e na nossa também

O maravilhoso livro de Virgínia Woolf "Mrs. Dalloway" iria antes se chamar "As Horas", pois acompanha um dia da vida da Sra. Dalloway. O escritor Michael Cunningham, sabendo disso, aproveitou o título em seu premiado livro "As Horas", de onde foi adaptado o roteiro do filme. Conta a história de três mulheres influenciadas de alguma maneira pela Sra. Dalloway; uma que escreve o romance, outra que vive como a personagem do romance e outra que se identifica com a personagem em alguns pontos. São mulheres de vidas e épocas diferentes, e a idéia de uma delas ser a própria Virgínia Woolf, é genial. O filme é feminino e intercala a vida destas três mulheres. Virgínia Woolf é mostrada na época em que escrevia o livro, quando passava por profunda depressão e sentimentos de suicídio. Laura é uma dona de casa infeliz, presa numa felicidade de mentira; nem a presença do filho lhe dá estímulos de seguir em frente. Ela, lendo o livro, se reconhece na personagem e fica influenciada. A terceira mulher é Clarissa (mesmo nome da Sra. Dalloway), uma mulher moderna, lésbica (como Virgínia), e que se identifica com a personagem devido a uma festa que tem que oferecer, em comemoração a um prêmio concedido ao seu amigo poeta Richard. Richard está doente com AIDS e não quer a festa. Clarissa sente toda a futilidade daquilo tudo, mesma sensação sentida pela Sra. Dalloway, que no romance também passa o dia preparando uma festa. A integração das personagens dos dois livros é perfeita e foi bem realizada no filme. No início do filme, quando as três mulheres são mostradas ao levantar, no mesmo momento em que Virgínia escreve, Laura lê e Clarissa diz a mesma coisa que a Sra. Dalloway diz no começo do dia: “Acho que vou comprar eu mesma as flores”. É brilhante. A fotografia do filme difere as três época distintas por meio de colorações específicas, algo parecido com o que vemos no filme Traffic. Sobre as atuações, Meryl Streep dá show, Nicole Kidman dá show (ganhou o Oscar), Ed Harris dá super show, mas é Juliane Moore que me emocionou muitíssimo; que atriz fantástica. O ator Jack Rovello, que faz o Richard criança, filho de Laura, também comove muito. Grande filme.

Dúvida


Ótimo filme, com as esperadas grandes atuações do elenco. O filme é uma adaptação da peça de mesmo nome, do dramaturgo John Patrick Shanley. A peça lhe deu o prêmio Pulitzer. Segunda a crítica, na peça a dúvida é bem mais forte, já que o filme de certa forma toma um lado. A peça deve ser maravilhosa, pena que ainda não a temos por aqui. Ambientada em 1964, a história de dúvidas em religiosos fervorosos numa igreja que ainda não pensava em transição, rende grandes batalhas verbais, cuja fé é usada como arma. A dúvida maior do filme gira em torno de uma possível pedofilia, mas há outras dúvidas menores, particulares de cada personagem, apenas insinuadas nas entrelinhas. Philip Seymour Hoffman faz um padre Flynn muito amável, mas também suspeitísimo; Amy Adams faz a freirinha perfeitamente doce que sofre com dúvidas que antes não eram suas, sentindo no coração o veneno da insegurança. Meryl Streep faz a poderosa irmã Aloysius, cujo zelo vive dando lugar ao capricho; há uma cena maravilhosa em que o padre Flynn pergunta se ela não tem um mínimo de compaixão e ela diz que não. A palavra compaixão aqui não é dita em sentido laico. Como podem ver, é um texto primoroso, muito arguto e requer atenção para sentir toda sua profundidade. A atriz Viola Davis surge numa participação tão curta quanto poderosa, numa interpretação incrível que ofuscou Meryl Streep por alguns momentos. Ela faz a mãe do menino que suspostamente teria sido a vítima do padre. Uma cena difícil, dita andando, com um texto muito forte e até supreendente, e ela dá um show. É um filme de texto e o quarteto de atores mencionados trabalham muito bem com essa ferramenta.; todos foram indicados ao Oscar. Não tenham dúvidas. Assistam.

A Casa dos Espíritos

Um dos elencos mais formidáveis já reunido em um filme. A dupla Glenn Close e Meryl Streep juntas, é algo que sempre quis ver. O filme, baseado no livro de mesmo título , de Isabel Allende, é ótimo e curiosamente foi consagrado pelo público e não pela crítica. Acompanha por décadas uma família envolvida com misticismo, amores proibidos, vinganças e outros temas, tendo ao fundo a ditadura militar de Pinochet e outros fatos marcantes da historia recente do Chile. Inesquecível. Quanto a Meryl Streep, sua atuação neste filme já rendeu muito que falar, devido ao brilhantismo e perfeccionismo (atuar em espanhol) exibidos.

Lembranças de Hollywood

Ótima comédia dramática; um retrato cáustico de uma Hollywood que não conhecemos. Um grande elenco, onde Shirley MacLaine e Meryl Streep brilham absolutas. Carly Simon assina as músicas do filme; ela já tinha trabalhado com Nichols em A Difícil Arte de Amar. O filme é baseado no livro autobiográfico da atriz Carrie Fischer. Ela tinha um relacionamento conturbado com a mãe também atriz, Debbie Reynolds. Outro acerto do Mike Nichols, sempre crítico, sempre penetrante.

A Morte Lhe Cai Bem

Louca comédia de Robert Zemeckis, um diretor que trabalha muito bem com efeitos especiais (ganhou o Oscar). Muito bom ver Goldie Hawn e Meryl Streep juntas. O elenco conta ainda com a bela Isabella Rossellini.

Ela não teve escolha.

A escolha de Sofia, baseado na novela de mesmo título de William Styron, foi o filme que consagrou Meryl Streep; com uma irretocável atuação, ela ganhou o Oscar e todos os outros prêmios disponíveis, como uma mãe que tem que fazer uma terrível escolha. O trabalho de Meryl Streep já se mostra genial neste filme, a grande emoção do dilema, que ela faria diferente em As Pontes de Madson; o capricho no sotaque, que ela faria em outra língua em A Casa dos Espíritos. E a vivência; quando um ator consegue nos passar a vivência do personagem (vida anterior), ele atingiu a perfeição do seu trabalho. A sua Sofia é linda, muito frágil, muito carente, sorri e dança. Mas sempre percebemos sob esse arcabouço, um grande peso. Cada olhar de Sofia denuncia sutilmente esse segredo. E ela apenas segue vivendo do momento, como que sem propósitos. Tem por companheiros seu amante Nathan e o amigo dos dois, o jovem escritor Stingo. Os três são amantes de literatura e citam autores americanos importantes, durante o filme. Há uma cena muito bem feita e interpretada pela Meryl, que me causou certo desgosto: Sofia, incipiente com a língua inglesa, se encanta pela poesia de Emily Dickinson (maior poetisa norte-americana; corram para conhecê-la). Ela vai à biblioteca e pergunta ao bibliotecário onde fica o catálogo dos grandes poetas americanos de século XIX, pois gostaria de encontrar Dickens “Emily Dickens”. O bibliotecário azedo, lhe aponta o caminho, mas lhe diz que ela não encontrará nenhum Dickens lá, pois Dickens é inglês (Charles Dickens). Ele sabe muito bem o que Sofia procura, mas em vez de lhe orientar, prefere ser ignóbil e desdenhá-la. Este fato lamentavelmente acontece de verdade nas bibliotecas e eu fico desgostoso porque sou um bibliotecário. Algo parecido acontece no filme Simplesmente Feliz, com um livreiro azedo. As cenas de Auschwitz devem ter servido de fonte, onde muitos filmes de hoje sobre o holocausto beberam. O filme tem uma ótima trilha sonora, tem um momento em que Nathan, meio ensandecido, rege o finalzinho da nona sinfonia de Beethoven. A fotografia é um primor, que favorece o clima de intimismo que ronda os três personagens. Belo filme; bela direção do Alan J. Pakula. No fim do filme, Stingo, vendo os dois amigos inanimados na cama, lê o seguinte trecho de Emily Dickinson:

Façam ampla esta cama.
Façam esta cama com temor;
Nela esperem até o dia do Juízo Final
Excelente e claro.
Seja direito o colchão,
Seja redondo o travesseiro;
Não deixem o alarido que causa o amarelado nascer do sol
Perturbar este solo. (Tradução minha)

A cena mostra a folha de rosto do livro. É uma preciosidade nos dias atuais. Uma edição dos SELECTED POEMS of EMILY DICKINSON. Com introdução de Conrad Aiken. Editado por THE MODERN LIBRARY, New York.

Eu já cataloguei uma edição igualzinha até na encadernação. Fiquei emocionado.

Coming Around Again





A Difícil Arte de Amar é um bom drama com bons desempenhos destes dois grandes mestres da atuação. O Mike Nichols sabem muito bem conduzir uma história, mostrando que amar é uma arte difícil. É mostrada uma aparente banalidade e quietude do casal, mas segurada com muito esforço pelos dois. Como diz o provérbio: "Águas calmas são profundas". A trilha sonora conta com o maior sucesso da Carly Simon "Coming Around Again", música que traduz muito bem o filme ao afirmar que essa coisa da família pacata, cada um com seus triviais papéis a representar, só fica bem no papel.

Escolher entre a felicidade ou o sacrifío parece fácil...


Um amor que nasce da mútua admiração em quatro dias, os dias mais importantes da vida de duas pessoas, dois estranhos que se conheceram sempre. A encruzilhada da vida muitas vezes traz uma alma gêmea que não deveria ser assim denominada. Qual o destino das almas gêmeas a não ser a eterna separação? Mas há um momento na vida em que as almas gêmeas se encontram sozinhas, na surdina do mundo, e se amam o tempo suficiente para fazer brotar a dor que as acompanhará para o resto da vida. Antes era dor indefinida; agora é dor companheira, único elo da saudade constante. As Pontes de Madison é uma pequena obra-prima que me marcou muito. Uma ponte me ligou à personagem Francesca. Ela, no final o filme, tem que tomar a mais difícil decisão de sua vida, assim de repente. Na época, eu também tinha uma decisão a tomar. Clint Eastwood dirigiu a cena arrastada o suficiente para moer a emoção do espectador. E Meryl Streep, nossa, atinge o ápice de sua arte nessa mesma cena. As Pontes de Madison é uma adaptação do Best Sellers de Robert James Waller. Este romance, baseado numa história real, também foi adaptado para o teatro. Filme maravilhoso. Perfeito.

O Menino do Pijama Listrado

Um bom filme que consegue emocionar. O final não chega a ser uma grande surpresa, apesar de causar compaixão. Uma cena que mexeu comigo: o menino alemão pergunta pro outro, que está no campo de concentração, "mas o que foi que você fez pra está aí?" e a resposta "Eu sou judeu". Tanto a pergunta como a resposta foram ditas como tamanha ingenuidade que me emocionou. Imagino que no livro, isso deve ser imensamente mais bonito e comovente. Quero ler.

Bem-vindo à Casa de Bonecas

Todd Solondz produziu, escreveu e dirigiu este filme e foi perfeito em tudo. É um estudo perfeito do bullying, da família, da personalidade, do isolamento social, e por aí vai... Em vez de fazer um super drama, ele fez uma comédia dramática, dirigida de forma tão banal quanto cruel. A personagem central da história, a Dawn (amo demais essa menina), feita pela Heather Matarazzo, sofre todo tipo de humilhação (na escola) e injustiça (em casa), mas não é nunca uma coitadinha; é uma adorável rebelde, uma incompreendida, uma esquecida, sei lá, é maravilhosa.

Um Real Banquete




Poucas vezes vi uma reconstituição de época tão luxuosa e requintada. Não podia ser diferente, já que o filme mostra todos os bastidores dos preparativos para um real banquete servido ao extravagante Luís XIV, no Château de Chantilly, pelo Príncipe de Condé. Tudo é muito “real”: o real príncipe, o real banquete, os reais fogos de artifício. Vatel (que de fato existiu), feito brilhantemente por Gérad Depardieu, é um cozinheiro que ganhou fama e respeito em toda França graças ao seu talento artístico, já que sua culinária rendia verdadeiras obras de arte. Vatel é perfeccionista e orgulhoso de sua arte (ele não apenas organiza os banquetes, mas todos os prazeres e entretenimentos estão ao seu cargo; o filme é muito feliz, mostrando ele como grandioso administrador de todo um exercito de criados), mas começa a desgostar-se dela ou do uso dela, ao descortinar o lado vil e corrupto (no sentindo verdadeiro da palavra) da nobreza a que serve. Vatel ama Anne de Montausier, preferida do rei (no sentido dado naquele tempo), mulher dividida entre a humilde verdade do amor e a opulente mentira da corte. Mas naquela época, uma mulher sozinha no mundo tinha que batalhar por sua sobrevivência. Anne é feita pela ótima Uma Thurman, já versada em filmes de época, todos devem lembrar-se dela no extraordinário Ligações Perigosas. O rei é feito por Julian Sands, que já trabalhou com Roland Joffé em Os Gritos do Silêncio. O pervertido irmão do rei é feito pelo talentoso Tim Roth. A trama bem urdida nos mostra as mais diferentes nuanças da vida cortesã. O roteiro recebeu prêmios e elogios pelo mundo e a direção do Joffé é caprichosa e detalhista ao extremo. O elenco brilha de maneira especial, todos os personagens mostram-se em mais de uma faceta. Mérito de Joffé, que teve a idéia de escrever para os atores, para ajudá-los na construção dos personagens, trechos de diários secretos imaginários de cada personagem, mas baseados na história real. Os figurinos e a direção de arte deslumbram todo o tempo. Ouve consultoria de especialistas em várias áreas para recriação de figurinos, maquiagem, comida (lembro ainda das frutas carameladas penduradas) e mesmo do clima daquele tempo. O filme é um grande deleite para os olhos e vai agradar aos amantes de História.