domingo, 28 de fevereiro de 2010

A felicidade só é real quando compartilhada





Foto do verdadeiro Christopher Johnson


Baseado numa história real, o filme, Na Natureza Selvagem (Into the Wild, 2007), mostra as aventuras (só entendo como aventura) de Christopher Johnson McCandles, numa viajem (em 1990) em busca de si mesmo. Essa viagem, para ele, tem de ser feita no isolamento da natureza, elemento ainda puro num mundo cheio de homens corrompidos. Seguindo um idealismo particular e tirando alento dos escritos de Tolstoi, London e, principalmente, Thoreau, ele abandonou tudo, numa viagem com destino ao Alasca. Chris doa seu dinheiro, rasga os documentos e tenta se integrar na natureza e esta lhe ensina a duros golpes que o Homem é um ser social. Há um problema no filme, a indecisão na condução (Sean Penn) da história. Há uma indecisão sobre a concentração do foco ou no emocional do personagem principal ou na estética do filme. Como a ação se passa na natureza, notamos que há uma necessidade constante de mostrá-la, numa idealização estética que faz o filme se perder em contemplação. Em outros momentos, o foco se volta para o personagem em sua crise de identidade. Não uma crise que ele sinta enquanto personagem, mas uma crise surgida devido a outra indecisão da direção. O autor do livro em que se baseou o filme, Jon Krakauer, se apoiou apenas em curtos registros, pequenas frases que o Chris deixou escritas e do que descobriu conversando com as pessoas com quem Chris teve contato na viagem e visitando os locais em que Chris esteve. Então não há como saber como se deram todos os acontecimentos reais. Em certo momento, dentro do ônibus abandonado, Chris descobre um nome "Alexander Supertramp". Ele assume o nome para si, assumindo uma identidade que não é a sua, mas que ele gostaria que fosse. A narração da irmã de Chris, mostra ele como um rapaz com sonho e ânsia de liberdade. Enquanto que Alexander Supertramp é o irresponsável que foge a tudo e vive ao léu no meio do mato. Uma análise profunda talvez troque as posições e revele uma verdade mais triste, um Chris egoísta, misantropo e superficial (opinião que o povo do Alasca até hoje tem dele), enquanto Alexander Supertramp seria o verdadeiro sonhador e amante da natureza, já que nenhum trauma torvava sua alma; pois, Chris tinha antigos desagravos com os pais e isso o perseguiu a vida toda, até um ponto que ele teve que fugir. Então, seria essa viagem um ato de liberdade ou uma fuga de um rapaz magoado e tomado de revolta juvenil? Essa indecisão ou indefinição de personagem complicou o fator verossimilhança do filme. Há muitos momentos em que fica no ar um sentimento de que a história está mal contada de tão inverossímeis que são algumas atitudes do personagem. Tirando isso, é um bom filme.
Tudo é mostrado com beleza e poesia, apoiadas na trilha sonora do Eddie Veder e na fotografia do Eric Gautier (responsável pela fotografia de Diários de Motocicleta). A estrutura do filme é muito interessante, assim como a ótima edição. O elenco é muito bom. Destaque para Emile Hirsch, Catherine Keener e Hal Holbrook. O filme não ganhou nem foi indicado a nenhum prêmio importante e isso dá o que pensar.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sherlock Holmes


O filme (Sherlock Holmes, 2009) traz um Sherlock Holmes bem diferente daquele ao qual estamos acostumados. Holmes aqui aparece ora lutando boxe, ora algemado nu numa cama e, como não poderia deixar de ser, usando também seu famoso método dedutivo para solucionar problemas. Holmes é feito com muito cinismo e petulância por Robert Downey Jr., um ator que da mesma forma que Johnny Depp, consegue conquistar o público, mesmo fazendo um tratante. Seu parceiro Watson é feito com muita competência por Jude Law e o clima de homoerotismo aparece no filme, só que tão sutil como nos livros de Sir Arthur Conan Doyle. A direção do Guy Ritchie é dinâmica e nos mostra uma Londres vitoriana, perfeita em sua sordidez. A historia é movimentada e muito divertida. A aparição discreta do arquiinimigo de Holmes, o professor Moriarty, só nos dá a certeza de que haverá uma continuação. Bom filme.

"Não há nada incomum no sofrimento"







Mesmos as platéias mais preparadas e já habituadas com o trabalho de Lars von Trier sentiram novamente a surpresa do choque. Anticristo (Antichrist, 2009) é um drama psicológico que flerta com o fantástico. Trata da dor de um casal; dor causada pelo remorso por não poder ter impedido a morte do filho pequeno. Esse sentimento de culpa, mais pungente porque provocado por uma morte, toma conta de tudo na vida deles, os absorve. Ela mostra-se completamente destruída, ele aparenta frieza e calma. Como psicoterapeuta, assume os riscos de tratar de sua própria esposa. Vão para Éden, sua cabana isolada no meio da floresta, floresta essa com quem eles parecem ter alguma integração. Nesse lugar ermo, eles seguirão uma dolorosa jornada de sofrimento, dor e desespero, até a chegada dos três mendigos (estes são os quatro capítulos do filme, que acaba com o epílogo). Há várias imagens perturbadoras que remetem à morte infantil e cenas de tortura que superam as de A Professora de Piano do Haneke. É um filme complexo que não se auto explica totalmente (a relação da natureza com o feminino, a constelação dos três mendigos, são exemplos). É uma experiência visual das mais interessantes e um exercício do Lars von Trier em mais uma tentativa de dissecar a dor. O casal é interpretado por Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe.
Deixo para o final o prólogo, por merecer uma atenção especial. No final do filme há uma volta ao prólogo, revelando-se algo terrível. Trata-se de uma abertura não menos que magnífica, uma verdadeira obra de arte (e olhe que em entrevista em Cannes, o diretor provocou a imprensa, por causa da polêmica em torno do filme, ao afirmar que dirigiu Anticristo com apenas metade de sua inteligência), com um profundo senso de estética, rica em detalhes calculados – há até a repetição sutil (há que ter muita atenção) das expressões do filho nos rostos dos pais –, tudo ao som da bela ária Lascia Ch'io Pianga, da ópera Rinaldo, do Handel (cantada pela mezzo soprano, Tuva Semmingsen). Um ótimo filme, forte, cru, do tipo ame ou odeie, com uma abertura extasiante.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Num Lago Dourado



Um dos filmes mais belos e delicados que já vi na vida. Mais uma maravilhosa história que o cinema garimpa do teatro, no caso, a peça de Ernest Thompson, onde ele mesmo escreveu o roteiro do filme, ganhando o Oscar de roteiro adaptado. Como Jane Fonda tinha comprado os direitos da peça, ela chamou o pai para trabalhar consigo. Henry Fonda, que dispensa apresentações, faz Norman, o velho ranzinza, sempre reclamando das coisas e falando em morte. No íntimo ele não é tão durão assim. Henry Fonda ganhou um Oscar com esse papel, sendo o ator mais velho a receber o troféu. Katharine Hepburn (magnífica), sendo quem era, não teve trabalho nenhum para exitar, mais uma vez, como Ethel, mesmo idosa e um pouco doente; e na época ela estava com o mal de Parkinson avançado. Ethel é a bondosa e dedicada esposa de Norman e não problemas com sua velhice. Katharine ganhou seu quarto Oscar com o papel. Na outra ponta da pirâmide está Jane Fonda, grande atriz, como Chelsea, a filha do casal. Chelsea ainda guarda resquícios de alguns traumas de infância e não se dá bem com o pai, a quem só chama pelo nome. Os dois vivem se hostilizando. Chelsea arruma um namorado que já tem um filho e antes de viajar com esse namorado, deixa o menino com os pais por um mês. Aos poucos a relação do menino com os velhinhos vai desabrochando até virar uma bela flor. Num Lago Dourado (On Golden Pond, 1981) é um filme contemplativo, mostrando a beleza da natureza (Nova Inglaterra) e, principalmente, do lago dourado (lagoa, no título). Essa contemplação é embalada pela poética trilha sonora. Indicado ainda para os Oscars de melhor filme, atriz coadjuvante (Jane Fonda), direção, trilha sonora, som, edição e fotografia, o filme é um primor cinematográfico sobre amor, relação pais e filhos e natureza que agrada a todos.
Há uma versão para TV feita em 2001, com a dupla de A Noviça Rebelde, Julie Andrews e Christopher Plummer.

A Festa de Babette





Já ouvi falar que este é um filme recomendado pelo Vaticano. E não é para menos, já que tudo em A Festa de Babette (Babettes Gaestebud, 1987) é sóbrio e deliciosamente amoroso; e não estou afirmando ou desafirmando que sejam estas, qualidades católicas. O filme fala de fé, sacrifício voluntário, amor silente e de culinária. Os cenários e locações naturais de uma natureza pacata e a atitude devota de seus habitantes dão ao filme um tom de bucólica paz. O elenco é um encanto em naturalidade, assim como encantadores são os personagens, com destaque para Babette, uma mulher que não sabemos muito sobre ela, mas não temos dúvida de sua bondade. Claro que em meio a toda essa maravilhosa simplicidade há muitos simbolismos, mormente cristãos. Quanto à sequencia da festa, é maravilhosa em detalhes e beleza; uma lição de como servir, enquanto vemos curiosidades, como a enorme tartaruga que vai virar sopa e o pitoresco prato “Codornas nos Sarcófagos”. Tem um ditado que diz que o amor mais verdadeiro é o amor à comida, e ele combina perfeitamente com esta deliciosa obra do cinema dinamarquês, vencedora do Oscar de melhor filme estrangeiro.
Um filme que obtem grandiosidade na simplicidade, como já disse Olavo Bilac “Porque a beleza, gêmea da Verdade, arte pura, inimiga do artifício, é a força e a Graça na simplicidade”.

Efeito Borboleta


O que me faz achar este um ótimo filme é menos sua ótima e inventiva história do que seu realismo nas contundentes cenas ocasionadoras dos traumas infanto-juvenis de Evan e seus amigos. Os atores-mirins que interpretam os personagens principais quando crianças são ótimos e conseguem comover muito; um exemplo disso é a forte cena com tortura de animais, que de tão bem dirigida e interpretada, consegue chocar mais que as de pedofilia. O fato de Evans a cada vez que volta no tempo encontrar as coisas piores do que deixou mostra que não se pode mudar muito as coisas, o que tem de ser será, de uma forma ou de outra; Donnie Darko foi mais feliz que Evans neste aspecto. É um filme triste, com um final triste embalado por uma música triste. E toda essa tristeza funciona no filme. Para os amantes de finais felizes, há um final alternativo no DVD.

Círculo de Fogo


Um filme vigoroso já na abertura; as cenas de batalha são espetaculares, o que não afeta o tom realista da ação. Situa-se em 1942, Stalingrado e tudo o que esta cidade representava no momento. Mostra o Exército Vermelho em defesa de seu Estado. A preparação dos jovens soldados é feita debaixo de fogo e eles são despejados no horror; as cenas cruentas impressionam. Uma realidade amara, mostrada no filme, é o tratamento dado ao soldado que se acovarda, deserta ou que quer fugir da guerra, ele é morto sem dó pelos seus superiores. Uma coisa é fato, o inimigo alemão não pisou o solo de Stalingrado. No meio do filme, a guerra sai do geral para o particular e assistimos a um interessante confronto entre franco-atiradores, e foi bom isso acontecer, já que o filme, uma produção americana tende a tomar partido dos soviéticos, quando sabemos que nenhum ali era flor que se cheire. Outra coisa que o filme mostra bem é que na guerra, certas aptidões ficam mais aguçadas, e a inteligência é uma delas, tanto a de um perito no tiro, quanto a de uma mãe deseperada. O elenco é otimo, destaque sempre para Ed Harris. A Trilha sonora é magnífica. E, como se trata de uma produção americana, o final é milagrosamente (ou forçadamente) feliz.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ben-Hur


Magnífico! Grandioso! Soberbo. Sequências antológicas que impressionam até hoje. Cenas do naufrágio da galé, do vale dos leprosos e a sequência de vinte minutos da corrida de bigas são memoráveis. Detalhe: a Paixão de Cristo é muito forte no filme, mesmo sem ser mostrada; a cena em que Ben-Hur dá água ao homem carregando a cruz é marcante. Indicado a 12 Oscars venceu 11. Épico inigualável.

A Paixão de Cristo


Todos nós temos Jesus no coração, então é natural que algumas pessoas critiquem o filme como forte e apelativo; outras não agüentam ver o Cristo sofrendo tanta brutalidade. Mas estas pessoas ignoram que tudo o que o filme mostra, nunca conseguirá ser mais terrível que a passada realidade. Quanto aos aspectos artísticos do filme, não sei qual foi a intenção do Mel Gibson, se chocar ou exortar através da comoção. O que achei lindo no filme foi no finalzinho, quando Jesus expira e uma gota cai do céu, como a lágrima de Deus, causando um terremoto; momento poético e triste. O idioma do filme em aramaico é algo que gosto bastante.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Cadillac Records


É interessante para quem quer ter uma noçãozinha sobre a história da gravadora e conhecer alguns artistas. Curiosidade: a Beyoncé faz uma Etta James completamente diferente da original, tanto física como musicalmente, não sei o que passou na cabeça do diretor escalar ela; mesmo assim o resultado não foi tão ruim.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

"It didn’t kill me"



Com Wild Tigers I Have Know acompanhamos um pouco da vida de Logan, um menino de 13 anos, que está passando por várias descobertas, a do corpo, a da identidade sexual e a do amor. Justamente numa das fases mais difíceis da sua vida, ele não tem ninguém (adulto) com quem possa se abrir e encontrar apoio. Não se deve esperar que a procura da comunicação venha apenas por parte dos jovens; é mais difícil para eles; os adultos é que deveriam estar sempre atentos à chegada dessa fase. O filme retrata muito bem, as indefinições, o isolamento e os desejos que povoam a cabeça do sensível Logan, o menino muito especial e inteligente, que se isola num mundo só seu (já que este não o merece), onde ele pode ser como verdade, onde pode sentir prazer, se impor e até morrer. Logan sente uma paixão por Rodeo, um rapaz bonito, mais velho e isolado como ele. Esta paixão o preenche totalmente. Em certo momento Logan cria uma persona, Leah, e, como tal, liga para Rodeo e propõe sexo-fone. Logan, de cara limpa, usa uma voz, um nome e uma identidade que não são dele. Então, num outro momento, ele põe batom e peruca loura, e quando liga para um amigo, fala com sua voz e diz seu nome verdadeiro. Bela sacada psicológica. Cam Archer teve muito tato ao mostrar os detalhes da adoração de Logan por Rodeo (até num sabonete contendo pêlos de Rodeo), um amor tão intenso quanto ingênuo. Logan vai seguindo sozinho, seu caminho de superação (It didn’t kill me, escrito em sua barriga), sempre fazendo suas acertadas escolhas. Há um momento homenagem a Nina Simone, numa música que fala exatamente disso, da juventude e suas escolhas. Tudo isso é mostrado com muitas sutilezas (há muita coisa apenas sugerida, onde temos que dar nossa interpretação), e o mundo para onde Logan vai, quando quer ser ele mesmo, é mostrando de maneira surreal e poética. No final melancólico, Logan se despede de nós e torcemos para que ele seja muito feliz.

Wild Tigers I Have Know é um filme independente, que passou com muitos aplausos pelo Sundance Film Festival. O menino Malcolm Stumpf, que faz o Logan, é um jovem ator expressivo e interessante, que faz um bom trabalho no filme. Cam Archer (estreando em longas) dirige seus jovens atores com bom senso, fazendo-os personagens calados e isolados em seu mundo, mas nem por isso tratando-os com autistas, coisa que vemos nos trabalhos fetichistas de Gus Van Sant. Aqui, para o bem do filme, Gus Van Sat atuou somente como produtor.

A trilha sonora, como era de se esperar, tem cores tristes, e a música que encerra o filme tem o mesmo título dele Wild Tigers I Have Know. Quem canta é a pouco conhecida Emily Jane White. Encontramos a música tanto na trilha do filme, quanto no álbum da cantora Dark Undercoat. O estilo desse álbum foi chamado de folk sombrio. A cantora diz que sua inspiração vem de escritoras como Emily Brontë e Sylvia Plath, e musicalmente de PJ Harvey, se bem que ela é mais comumente comparada a Cat Power. O próprio Cam Archer é quem dirige os vídeos da cantora.

Sobre o Cam Archer, ele é um diretor que, como Gus Van San, tem uma predileção pelo tema do amor entre meninos. Isso ocorre também em documentários, Gus Van Sant fez um sobre Kurt Kobain (que não era adolescente) e Cam Acher fez dois documentários em curta metragem, um sobre River Phoenix e outro sobre Jonathan Brandis (mais conhecido por História sem Fim 2), ambos cometeram suicídio (River, morreu de overdose, mas alguns dizem que a overdose foi o caminho). A direção dele lembra um pouco a do Gus Van Sant, embora ele pareça ter mais bom senso.

Um Sonho Sem Limites

Olha só como o Gus Van Sant faz bons filmes, quando ele foge de seus fetiches. Acompanhamos a deliciosa história de uma mulher que tem uma meta na vida e ai de quem estiver no seu caminho. Nicole Kidman está ótima e foi premiada pelo trabalho (Globo de Ouro). Vemos história igual no filme Eleição de 1999, com a também ótima Reese Whiterspoon.

Um Elefante incomoda muita gente...


Bem, este é o filme que deu a Palma de Ouro a Gus Van Sant. Não sei se o prêmio foi concedido pelo conjunto da obra ou por que a estranheza do filme foi encarada como algo genial. Talvez os votantes fossem amigos do diretor. Porque o filme é chatíssimo e dá muito sono; e não dá sono por causa do ritmo lento não, pois há filmes com ritmo super lento que são maravilhosos como, por exemplo, A Eternidade e um Dia. O problema aqui é que o filme é vazio em direção, roteiro, atuação e significado. E um punhado de detalhes bonitinhos não salva a imagem geral de um quadro se esta não consegue se comunicar com quem lhe observa.

Paranoid Park


Mais um pouco de Gus Van Sant e seu fetiche por jovens pré-adolescentes ou pelo menos aparentando isso. Aqui ele conta uma história séria que deveria nos emocionar. Para causar estranheza ele usa tanto a fotografia como a trilha sonora de maneira bem particular. O filme repete muito dos aspectos que já vimos em Elefante, do próprio Gus van Sant. Elefante, não sei como, ganhou a Palma de Ouro em Cannes, esse pode ter sido o motivo da repetição. Não funcionou.

Garotos de Programa

Um dos poucos bons filmes do Gus Van Sant. Adaptar, com originalidade e ousadia, Henrique IV, do Shakespeare, já é um mérito. River Phoenix está maravilhoso e suas cenas são todas inesquecíves.

Encontrando Forrest

Mesmo com ecos em Gênio Indomável, este é um dos poucos ótimos filmes do Gus Van Sant. Bela história, bem contada e interpretada. Juntou de novo a imbatível dupla Sean Connery/F. Murray Abraham. O tema da escrita é sempre um deleite. E um filme com um tema desse, tinha mesmo que ter um roteiro acima da média.

Milk

Bom filme do Gus Van Sant. Excelente atuação do Sean Penn que lhe valeu o Oscar. Claro que o Mickey Rourke merecia muito mais pelo visceral trabalho em O Lutador, mas o Oscar tem dessas coisas.

Assassinato em Blackrock


Este pequeno filme independente, que geralmente passa despercebido, tendo um assassinato como pano de fundo, mostra de maneira sóbria e sincera a decadência moral e emocional da família norte-americana. O país mais poderoso do mundo guarda em seu seio famílias cujos membros mentem ou escondem verdades uns para os outros, e vivem dependendo de alguma substância (não necessariamente drogas ilícitas) para seguir em frente.

Ken Park

Filme que poderia ser muito bom e trata de questões sérias e interessantes relacionadas aos jovens, mas que se perde ao querer chocar o espectador. O diretor Larry Clark perdendo a mão. O cartaz já deixa clara a intenção do filme.

Kids


Bom filme que chocou e ainda choca, graças à maneira super realista com que foi feito. É um dedo bem grande numa ferida cada vez mais inflamada, o desajustamento da juventude norte-americana em especial. O filme ainda revelou para o mundo a talentosa atriz Chloë Sevigny. O diretor Larry Clark fez um trabalho sincero e admirável, onde nada é gratuito ou apelativo, coisa que iria acontecer mais tarde em sua obra.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Um Sonho de Liberdade

Uma história sem furos, extremamente bem contada. Um grande filme. E Morgan Freeman é um gigante da interpretação. Trata de questões como reabilitação, sonho e superação; mostra a impossibilidade de reabilitação num ambiente hostil, onde a própria direção do lugar é corrupta e negligente com as violências ocorridas. Mas, por outro lado, não podemos esquecer que Andy Dufresne cometeu duplo assassinato e não me pareceu bem explicada sua pretensa inocência. Já pensou se todo criminoso que não tem sua condicional aceita, decidisse fugir? Afinal, o título original (The Shawshank Redemption) fala em redenção, e redenção significa remir ou redimir algo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O Leitor


Um grande filme, com certeza. Atuação extraordinária da Kate Winslet, vencedora do Oscar como atriz principal e do Globo de Ouro de atriz coadjuvante (coadjuvante porque já concorria como atriz principal por Foi Apenas um Sonho). O segredo revelado no final é tocante e me fez chorar. Tecnicamente é muito bem feito, e tem desagradado alguns pela falta de emoção no decorrer da narrativa. Acho que esta falta de emoção é bem-vinda, devido ao passado da personagem, afinal se o filme fosse muito emotivo, corria-se o risco de humanizar demais uma ex-guarda em Auschwitz. Esta ex-guarda será julgada pela morte de trezentas mulheres, num incêndio autorizado, dentro de uma igreja, e assumirá uma culpa que não é diretamente sua (aí reside o segredo). Acho que o tema principal de O Leitor nunca foi o Holocausto e sim outro, o analfabetismo gerando vergonha e depois superação. Impossível não vir à mente A Importância do Ato de Ler, de Paulo Freire.

Foi Apenas um Sonho

Estes dois tem uma química maravilhosa. Algo falta na vida do casal April e Frank (Kate Winslet e Leonardo DiCaprio). Algo que eles não sabem exatamente o que é, mas que incomoda muito, a ponto de ameaçar a sobrevivência do casal. As brigas são memoráveis. Grande filme. Lembra outro grande filme, com uma situação parecida, protagonizado por outros dois ótimos atores loiros e com química maravilhosa, Barbra Streisand e Robert Redford em Nosso Amor de Ontem. Kate Winslet ganhou o Globo de ouro com este filme e só não concorreu ao Oscar porque foi indicada por O Leitor.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Volver



Volver é mais um trabalho brilhante do Almodóvar. Lindo demais em significado. Uma história de mulheres maravilhosas, onde até o fantasma da vó é um persongem com grande humanidade. Na época do lançamento, o diretor comentou o seguinte numa entrevista: “Volver, sendo meu filme mais bairrista, causou-me temor de que ele só fosse compreendido em La Mancha, onde nasceu. Mas o prêmio (Globo de Ouro) demonstra que o filme tem asas e que em qualquer lugar a luta destas mulheres solidárias e sós, agredidas e agressoras, será compreendida”. Almodóvar consegue como ninguém transformar o absurdo em banal e isso traz uma grande empatia entre expectador e personagens; isso faz com que tenhamos muito carinho por seus filmes. Também é interessante como percebemos um amadurecimento na obra do diretor a cada filme; não é uma mudança que passa despercebida; ela é patente em cada cena, em cada atitude dos personagens e no conjunto. Tudo leva a crer que ainda vamos ter muitas obras-primas desse cineasta que nunca deixou de ser autêntico. Quanto à Penélope Cruz, o que posso dize é que eu era indiferente a ela até ver este filme. Está perfeita em atuação, canto e beleza, sendo indicada ao Oscar.

Fale com Ela



Um dos mais belos e poéticos filmes do Almodóvar. Belo em imagens, palavras e som, o filme parece que foi feito para deleitar o espírito. Até uma tourada (coisa que abomino) fica linda, quando o diretor é um isnpirado Pedro Almodóvar. Esta cena da tourada, com música de Elis Regina, já entrou para a história do cinema. O Brasil também está no filme na presença de Caetano Velsoso, cantando lindamente. Percebe-se nitidamente que a cena é um presente e uma homenagem de Almodóvar ao seu amigo Caetano. Há ainda uma homenagem ao cinema mudo no lindo curta da autoria do Almodóvar “O Amante Minguante”. A cena final então...

Aula de metalinguagem



Má Educação é um grande êxito do Almodóvar. Um filme que usa a metalinguagem para desenvolver seu complexo roteiro. A sofisticada direção do Almodóvar nos leva a acompanhar, por três décadas diferentes, claro, a história de vida de Ignacio, Enrique e padre Manolo, todos personagens ricos e difíceis. Em certo momento do filme, começa um jogo de espelhos, um filme dentro do filme, com cores noir; um Almodóvar se reiventando, num filme tão sombrio quanto amargo. Com certeza um dos melhores do Almodóvar, mas que foi ignorado pelos festivais e nem sequer concorreu ao Oscar de filme estrangeiro; mesmo em Cannes, tido como um festival tão libertário, o filme foi recebido com frieza. Isso mostra como até o público mais avançado intelectualmente ainda sofre com bloqueios e preconceitos quando se trata de temas que lhe são espinhosos. O grande destaque é o ótimo Gael García Bernal, que fez brilhantemente um travesti. E ainda teve quem fizesse comparações com o travesti que o Rodrigo Santoro fez em Carandiru. Péssimo desempenho do Santoro.

A mais irresistível das leis


O título A Lei do Desejo explica muito bem o filme. A história é tida pela crítica como autobiográfica. Os temas preferidos do Almodóvar estão firmes e fortes aqui, pulsão sexual, homossexualidade e amor doentio. Temos a maravilhosa presença da atriz Carmem Maura e um jovem Antonio Bandeiras quase repetindo seu personagem do filme Matador. Devido a algumas cenas fortes como passivo, o ator tentou como pôde, proibidor o relançamento do filme nos cinemas 20 anos depois. Uma coisa muito boa nos filmes do Almodóvar é a injeção de cultura que ele dá ao seu público através de referências literárias e, principalmente, através da música. Vi este filme no extinto Cine Arraial, no antigo Teatro do Arraial, na Rua da Aurora, um lugar para os cinéfilos mais arraigados. Foi a primeira que vez que ouvi Ne Me Quitte Pas com Maysa Matarazzo (a melhor intérprete da canção no mundo todo). Imaginem como me senti. Depois descobri a música em Nina Simone e tantas outras, mas a versão da Maysa nunca foi superada na minha lembrança. Imagino que a mesma coisa aconteça com outros públiocos em outras plagas, quando num filme maravilhoso como Fale com Ela, ele põe uma música de Elis Regina. Meus profundos agradecimentos a Almodóvar.

Ata-me!


Tratar de amor é algo que exige uma dose a mais de lucidez, já que este sentimento lúcido, tem o dom maravilhoso de, contrário a si mesmo, turvar a clareza de pensamento. Neste assunto, Ata-me!, um dos filmes mais calientes do cinema, é arrasador. Principia com um seqüestro (quantos de nós já não teve vontade de fazer igual?) de uma jovem (objeto de desejo). A jovem tem o desejo da liberdade. O prazer se impõe. O desejo é apaixonado, não o prazer. O desejo de liberdade abranda-se. O objeto de desejo identifica-se com o objeto desejador. Cessação do desejo de liberdade. Aceitação, por identificação, da condição de sujeição. O desejo de liberdade continua, só que a liberdade agora só é possível se atada e pertencente ao outro. Os dois papéis agora se confundem numa união insalubre. O objeto de desejo agora é o desejador, mediante a idéia que tem de poder ser parte integral do outro. Um jogo arrebatador. Almodóvar em grande forma.

Kika


Uma das obras do Almodóvar que mais aprecio. Quando vi a primeira vez, não acreditava nas loucuras que via a cada cena. Ria muito. Hoje rio mais ainda, pois compreendo mais. O termo kitsch é muito usado em relação a esta comédia mais que nas outras do Almodóvar. A história não é bem assim para quem conhece a origem do termo, mas é uma daquelas apropriações ou associações que fazem com um certo termo e ele acaba passando significar também a coisa assimilada etc etc.

De Salto Alto


Ótimo filme em que Almodóvar mistura humor e suspense em doses equilibradas. Às vezes parece que Almodóvar está se divertindo muito numa espécie de paródia dos melodramas do passado, gênero que com certeza ele deve gostar muito. Quanto ao elenco, eu amo as mulheres do Almodóvar, as de ontem mais que as de hoje.

Maus Hábitos


Ótima comédia da primeira fase do Almodóvar. Redentoras Humilhadas, Irmã Esterco... tudo muito hilário e ousado. Não é a toa que o filme demorou 15 anos para chegar no Brasil.

Matador


Um dos filmes menores do Almodóvar. O roteiro irregular contém o germe de todos os traços marcantes que veremos nas obras posteriores (não em todas) do diretor. Participando do filme como um estilista, quando uma repórter lhe faz uma pergunta, vemos na resposta do estilista uma defesa do Almodóvar em relação à sua obra, uma afirmação da sua postura como cineasta e uma resposta aos críticos que malhavam seus filmes. Bom filme.

Um segredo em flor


Com A Flor do Meu Desejo, temos um Almodóvar delicado, sofisticado e cheio de estudados detalhes, a começar pelo significado do nome Amanda Gris, pseudônimo da escritora Leo. É um filme com várias camadas, exigindo atenção do espectador. Lea é uma escritora em crise pessoal e emocional. A mudança que a vida nos impõe a levará a um desejo de honestidade consigo mesma. Depois de tantos anos de conformismo e comodismo, tudo que ela quer é “... ser clara e sincera” A Canção tema"La Flor di Mi Secreto" fica por conta do grande Bola de Nieve.

Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos



Louca comédia. Cada uma dessas mulheres tem um motivo para estar à beira de um ataque de nervos. Novamente Almodóvar injeta drama e suspense na comédia e o resultado dá super certo, isso por que ele é um mestre. Como é bom ver em cena a maravilhosa Carmem Maura, a minha atriz preferida dos filmes de Almodóvar. E como é deliciosa a exótica presença de Rossy de Palma.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A Conversação

Produzido, escrito e dirigido por Francis Ford Coppola é um bom suspense sobre espionagem, cheio de reviravoltas e a costumeira interpretação do Gene Hackman, sempre ótima. Harry Caul é um especialista em sistemas de escuta que um dia, ouvindo uma conversa de um casal num parque, começa a por em cheque a sua profissionão e ele mesmo como indivíduo. Não demora para que a paronóia que já fazia parte de sua vida, fuja de seu controle. O final surpreende. Já nessa época, anos 70, o filme faz uma denúncia sobre o perigo da total vigilância do Estado em nossas vidas, vigilância que pode estar ocorrendo a qualquer momento e nem suspeitarmos. Em 1998 Gene Hackman faria O Inimigo dos Estado, um filme com a mesma temática, só que com uma tecnologia avançadíssima. Não há como escapar dessa tecnologia. Inimigo do Estado não é uma continuação, mas é uma clara homenagem ao filme do Coppola, tanto na cena de abertura, quanto no pesonagem do Gene Hackman. A Conversação ganhou a Palma de Ouro em Cannes.

Elvira – A Rainha das Trevas



Eu não podia deixar nunca de elogiar um trash luxuoso desse, rsrsrs. Me divertiu tantas e tantas vezes na sessão da tarde. Ela é pilantra e ingênua ao mesmo tempo. No filme, ela arruma um trabalho de apresentadora engraçada de programa de filmes de horror (idéia boa), e é isso mesmo que ela sempre fez na TV americana, com grande sucesso; é tipo o que Monique Evans fazia no programa Noite a Fora (só que falando de sexo). Elvira é muito amada nos EUA, onde virou marca de vários produtos. Não há quem resista. Até Fellini a chamou a Cassandra Peterson para uma ponta no filme Roma de 1972.

O Jovem Frankenstein

Um clássico do humor, dirigido pelo grande Mel Brooks. Mel Brooks é tão genial quanto Woody Allen, apesar de ser bem menos badalado. A diferença é que o humor de Allen é essencilamente textual, enquanto Brooks se destaca mais nas gags e humor non sense. Esta sua paródia do Frankenstein de Mary Shelley faz rir muito e tem momentos brilhantes, como os do monstro com o cego. Gene Wilder como o doutor Frankenstein e Peter Boyle como o monstro estão impagáveis, mas o verdadeiro biscoito fino com que o Mel Brooks conseguiu foi nos brindar com a chance de ver o ator Marty Feldman como o Igor, com direito a muitos olhos virados, rsrsrs! Imperdível.

A Eternidade e um Dia

Uma obra difícil do Theo Angelopoulos, altamente filosófica (um existencialismo que remete a Sartre), A Eternidade e um Dia mostra, de forma muito inventiva, o fluxo de memórias do poeta Alexandre em relação a sua falecida esposa. Merencórias memórias, onde o arrependimento é uma constante. As transições de tempo são mostradas sem pressa, permitindo ao espectador mais reflexão sobre a vida do personagem. A narrativa fundiu brilhantemente os tempos e dessa forma a eternidade pôde até caber em um dia. Palma de Ouro em Cannes.