segunda-feira, 12 de julho de 2010

Instinto Básico






Instinto Selvagem (Basic Instinct, 1992) é um suspense psicológico excepcional. Um grande sucesso dirigido brilhantemente por Paul Verhoeven (mais conhecido pelas ótimas ficções O Vingador do Futuro, Robocop e Tropas Estelares). 

Nick (Michael Douglas) faz um policial de pavio curto, ex-usuário de cocaína e que passou por um processo por ter atirado, segundo ele por acidente, em civis. Ele é o prato cheio para os jogos psicológicos de Catherine Tramell, uma mulher de beleza incomparável, milionária, formada em psicologia, viciada em sexo e outras drogas e com um linguajar direto e às vezes chulo. Nick, que já tem um caso a psicóloga da corregedoria, Dra. Elizabeth Garner (Jeanne Tripplehorn), se envolve amorosamente com Catherine, que é suspeita de matar um cantor de rock durante o sexo, com um furador de gelo (uma cena mostra sua habilidade com tal objeto). Catherine, tem livros escritos, Best-sellers policiais, e um deles chama-se “O Amor Dói”, onde há um assassinato idêntico. Então, ou alguém usou esse fator para incriminá-la ou ela escreveu o livro como álibi, podendo dizer que não seria tão idiota de matar alguém da mesma forma como escreveu no livro. Vale lembrar que para cada morte que ronda sua vida, ela te um livro com enredo semelhante escrito, como no caso da morte dos seus pais. Envolvido com duas brilhantes manipuladoras, Nick acha que sua experiência como profissional que sabe muito sobre impulso homicida, o manterá dono da situação, mas acaba se vendo num inferno. O segundo triângulo da historia é formado por ele e Catherine novamente, tendo por terceira ponta, Roxy, a amante titular de Catherine (ela tem outros e outras e os usa como materiais para seus livros; investigou a vida de Nick, pois está escrevendo um livro sobre um policial atirador e diz a Nick “Você dará um ótimo personagem”; lá pelo fim da fita, ele lhe pergunta se ela não pode eliminar o assassinato da história do livro e ela lhe diz que se fizer isso, não vai vender; perguntada por que, responde “Alguém sempre tem que morrer”). Há um assassino a solta e todas as três são suspeitas; isso torna a trama um jogo perverso de gato e ratas ou vice-versa.

Catherine é uma personagem magnífica, segundo a própria Elizabeth “Ela é brilhante”; ela hipnotiza a todos sempre que está em cena. Ela, que herdou a fortuna dos pais mortos em acidente suspeito (sendo ela própria a principal suspeita) está sempre desafiando seus próprios limites psicológicos e brincando com o perigo. Ela, quando interrogada pela polícia, numa sala repleta de homens, faz deles gato e sapato (quando ela acende um cigarro e escuta um “é proibido fumar neste edifício”, responde “vai me prender por fumar?”; depois vem a antológica cruzada de pernas sem calcinha); findado o interrogatório, faz questão de passar pelo polígrafo, só pela satisfação de enganar a máquina. Quanto a Nick, Catherine se diverte testando o limite dele com seus jogos que vão desde testes, ela lhe pergunta se ele tem um cigarro, ele diz que não fuma, ela responde “Fuma sim”; em seguida ela pega um cigarro que traz consigo, acende-o e lhe oferece; ele lhe diz de novo que parou de fumar e pára, percebendo o jogo e ela diz “por pouco tempo” (na seqüência do interrogatório ela voltará a lhe oferecer um cigarro, é demais); ela também vive irritando-o, lhe chamando de ‘atirador’, fato relacionado ao seu processo e que o aborrece muitíssimo por algum motivo; ela sabe que ele lhe viu trocar de roupa e em dado momento lhe diz “Você sabe que não uso nada por baixo, não é Nick?” Sexo, amor e violência são elementos fortes no filme e se confundem; as cenas que envolvem esses três elementos, são sempre fortes e ousadas, num suspense em crescente, com toques a lá Hitchcock, numa homenagem a Vertigo (locações, escada do prédio de Nick, que lembra a escada da torre em Vertigo, penteado de Catherine durante o interrogatório e o próprio jogo com a identidade das personagens, onde não sabemos quem é Catherine, Elizabeth ou Roxy em determinados momentos e em ações não vistas). Isso revela um roteiro inteligente e afiado, que brinca com o ambíguo e o misterioso, e usa elementos psicológicos para iludir o espectador, prendendo a atenção todo o tempo. No final, a ambigüidade domina, e cada um pode tirar suas conclusões sobre quem realmente é a assassina. 

Na época, Camille Paglia apontou um significado fálico no picador de gelo, e o feminismo estava em alta; o linguajar, a postura, a violência do filme eram elementos muito controversos na época, o que fez dele uma sensação e colocou Sharon Stone no topo da fama. Não foi ainda nesse filme que seu talento dramático foi reconhecido, mas ninguém pode deixar de comentar o quanto ela estava poderosa e bela como uma deusa olímpica. O figurino clean e sofisticado da personagem, composto por peças básicas, minimalistas, foi discutido, admirado e imitado mundo afora. Sem dúvida um dos principais filmes da década de 90.