domingo, 10 de outubro de 2010

Tudo sobre Eve







Bette Davis é famosa, sobretudo, por suas grandes vilãs e esse filme contribuiu para aumentar essa fama entre o público brasileiro desavisado, por causa do título do filme, A Malvada (1950); já que ela é a estrela do filme, pensavam que a malvada da história seria ela. O título “A Malvada” já está gravado em nossas mentes e nem nos ressentimos dele; mas vamos concordar que o título original All About Eve “Tudo Sobre Eve” é maravilhoso. O título sugere um dossiê e é isso que veremos na tela. O filme começa mostrando a elite do teatro reunida em Nova York, para uma importante cerimônia de premiação do teatro. Estão presentes Margo Channing, uma importante atriz da área e Eve Harrington, a triz mais jovem que ganhará o prêmio. Karen, amiga de Margo, e esposa do dramaturgo Lloyd Richards, é que relembra, através de flashbacks, tudo sobre Eve; a sua escalada rumo ao estrelato através da aproximação de Margo, como uma fervorosa fã. Eve não faltava a nenhuma apresentação de Margo. Uma noite, depois de mais uma apresentação, Karen pede a Margo que conheça uma grande fã sua. Eve, um poço de bondade e devoção, conquista Margo e vira sua secretaria particular. Nem todos caíram na conversa de Eve, pois Birdie, a acídula camareira de Margo, percebe algo de errado na moça e tenta alertar a patroa. Sempre tramando, Eve consegue, através de Karen, virar substituta de Margo no teatro e, um dia, quando Margo perde o trem, Eve se apresenta em seu lugar. Os jornais noticiaram a grande estréia de Eve nos palcos e esta dá entrevista criticando atrizes mais velhas que insistem em atuar em papéis que não estão de acordo com sua idade. Margo, cuja simpatia por Eve já vinha a algum tempo se tornando em hostilidade, fica mais irritada do que nunca. A cena da festa, em que Margo está soltando faíscas e ironias por tudo que é lado é talvez a mais famosa do filme. Suas falas, a maioria em relação à idade de Eve, são deliciosas. É nessa festa que aparece, em uma de suas primeiras aparições na tela, fazendo numa ponta, a figura de Marilyn Monroe, que se tornaria o maior ícone sexual do cinema. A inescrupulosa Eve continua em frente com seus planos, agora querendo tomar Lloyd, o marido de Karen, para que escreva peças onde o papel principal seja dela. O crítico teatral, Addison DeWitt, querendo Eve para si, investiga seu passado e descobre que a moça tem muito a esconder. Ele a chantageia e ela tem que ceder, tornando-se vítima do seu próprio veneno. Voltamos à cerimônia de premiação. Ela vence. O clima de amarga vitória é maravilhoso. Margo, magnânima a cumprimenta. Quando volta ao seu apartamento, Eve encontra uma bela e jovem adolescente chamada Phoebe, presidente de seu fã-clube... Filmes sobre os bastidores da fama sempre me atraem muito. A Malvada é, com certeza, um dos maiores filmes já feitos. Direção impecável do grande Joseph L. Mankiewicz (responsável também pelo roteiro); o elenco é irrepreensível: Anne Baxter, Gary Merrill, George Sanders, Hugh Marlowe, Celeste Holm e Thelma Ritter; Bette Davis mítica (melhor atriz em Cannes). Indicado a 14 Oscars: filme, direção, atriz (dois, para Bette Davis e Anne Baxter), atriz coadjuvante (2, para Celeste Holm e Thelma Ritter), ator coadjuvante, roteiro adaptado, direção de arte, fotografia, edição, som, trilha sonora e figurino; venceu: filme, direção, ator coadjuvante, roteiro adaptado, som e figurino.

A razão escrava da paixão




O filme, Escravos do Desejo (Of Human Bondage, 1936), também é conhecido pelo título Servidão Humana, que é a tradução mais correta do título original do livro de William Somerset Maugham (não confundir com A Condição Humana, livro de André Malraux). O livro, além dessa adaptação, teve outras duas, uma 1946 e outra em 1964. Um homem bom, Philip Carey (Leslie Howard, ótimo), se submete aos caprichos de uma garçonete amoral. Nessa servidão, ele perde quase tudo na vida, sem nunca ser verdadeiramente retribuído por ela. E quem poderá julgá-lo ou criticá-lo? Quem já não esteve preso nesses laços ilusórios do amor, os mais difíceis de romper? O filme foi moderno para a época ao tratar do tema de maneira muito simples e realista. Apesar de ter feito outros filmes antes, essa é considerada a verdadeira estréia da Bette Davis no cinema. Ela obteve sua primeira das dez indicações ao Oscar. Bette Davis tem um recorde ainda não igualado de ter sido indicada por quatro anos consecutivos. Mas a indicação por Escravos do Desejo não veio fácil. Ela não foi contada na lista de indicadas daquele ano (trama da Warner). Mas como toda a imprensa e o meio cinematográfico acharam um absurdo, seu nome foi inserido no outro ano (coisa semelhante aconteceu com o filme Cidade de Deus). Uma crítica chegou a dizer na época, que aquela fora a melhor interpretação feminina jamais vista no cinema até então. A cena em que depois de desprezada por Philip, Mildred, enfurecida, atira-lhe na cara uma enxurrada de ofensas, é arrepiante. Não deixem de conferir.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Jezebel



Na Nova Orleans de 1852, Julie Marsden, uma jovem e impetuosa aristocrata, escandaliza a sociedade, não seguindo as convenções sociais de seu tempo. Isso afasta seu noivo, que viaja para Filadélfia, retornando depois de uns anos, já casado. Dominada pelo orgulho ofendido, pelo ciúme e pela vingança, ela começa um caminho autodestrutivo, atingindo as pessoas em sua volta e a si mesma. Uma epidemia de febre amarela lhe dá chances de fazer o bem e se redimir. O título do filme (Jezebel, 1938) é perfeito em sua referência bíblica. Ótimo filme de cores sulistas dirigido por William Wyler, com grande atuação de Bette Davis, que lhe valeu o Oscar. Oscar também de atriz coadjuvante para Fay Bainter e indicado para filme, fotografia e trilha sonora.