quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A Estranha Passageira


A Estranha Passageira (Now, Voyager, 1942) é um filme muito especial da Bette Davis num papel romântico, fugindo um pouco das mulheres terríveis que ela já fez. O melodrama conta a história de Charlotte Vale, uma solteirona retraída que foge da tirania da mãe (uma ótima Gladys Cooper, indicada ao Oscar de coadjuvante), para uma viagem ao rumo à América do Sul (o Rio de Janeiro incluso) e ao amor com um homem casado, Jerry. Jerry tem uma filha retraída, na qual Charlotte enxerga um pouco de si mesma no recente passado. Antes disso tudo, Charlotte passa por um tratamento psicológico que lhe transforma física e emocionalmente. Este amor não encontra certezas sobre sua duração, então deverá ser aproveitado intensamente enquanto dá. O filme tem momentos inesquecíveis, como a cena em que o ator Paul Henreid (Jerry) improvisa e acende dois cigarros ao mesmo tempo, oferecendo um a Charlotte. O jeito da personagem Charlotte fumar, foi por anos imitado por mulheres e travestis nos EUA. A elogiada trilha sonora, vencedora do Oscar, é um primor. E Bette Davis novamente indicada ao Oscar num desempenho encantador. Frases de Charlotte, que entraram para a história do cinema: “Oh, Jerry, não vamos pedir a lua. Temos as estrelas” e “Te beijaria agora, mas não quero estragar minha maquilagem”.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Baby Jane



Versão de 1991 para o clássico filme de 1962 O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane?). A história é seguida sem modificações e conta com ótimas atuações, já que se trata de Vanessa e Lynn Redgrave. As duas são irmãs na vida real e fazem um bom trabalho nesse pequeno filme feito para a TV.

Então esse tempo todo poderíamos ter sido amigas?





Bastidores

Já há muito tempo considerava Bette Davis a maior atriz de todos os tempos quando vi O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane? 1962). Claro que mais uma vez fiquei deslumbrado. Para mim, que sou ator, ver uma atuação tão soberba é um refrigério para espírito. O trabalho de Joan Crawford também é magnífico, mas Davis é um assombro. Na vida real, eram duas mulheres fortes, difíceis e eram rivais também, informação que dá um gostinho a mais, vendo o filme. Essa rivalidade gerou vários comentários e histórias cabeludas não comprovadas, como, por exemplo, algumas das bofetadas de Davis machucarem realmente a Crawford. Um fato que ocorreu foi Davis mandar instalar uma máquina da coca-cola defronte ao trailer de Crawford (o marido de Crawford era dono da Pepsi). Sem contar as frases de Davis sobre Crawford; a mais conhecida foi “Se Joan Crawford estivesse em chamas, eu mijaria nela para apagar o fogo”. O filme, tradicionalmente classificado como terror psicológico, conta a história de duas irmãs circundadas pela inveja, quando crianças, Blanche por Jane, e quando adultas, Jane por Blanche. Robert Aldrich (que tinha uma queda por esse tipo de história) fez um filme profundamente psicológico (desde a bela sacada, ainda nos créditos, da boneca Baby Jane quebrada na cabeça) mostrando o que esse sentimento, a inveja, pode fazer com as pessoas, corroendo-as a vida toda como um cancro que mata a alma. Outro problema das duas irmãs é a falta de comunicação (há uma grande virada no final, que nos dá uma lição sobre a importância da comunicação nas relações humanas;). Quando criança, a linda e talentosa Jane era a estrela da família e a princesinha do papai enquanto a pobre Blanche ficava sempre de lado, não sem que a mãe percebesse e é interessante como a mãe (também desprezada) das meninas percebe desde cedo no que tanto ressentimento acumulado vai dar. Jane, adulta, vira dama do teatro e Blanche, adulta, vira estrela do cinema numa época de reinado de Hollywood. Jane não consegue brilhar nas telas como brilha nos palcos e assim os papéis se trocam com Jane ficando na sombra de Blanche. Até que surge o misterioso acidente automobilístico que põe Blache numa cadeira de rodas. Outro pulo no tempo e agora vemos as duas irmãs idosas, Baby Jane Hudson cuidado de uma Blanche totalmente dependente dela. Blanche vive em estado de constante terror, sempre alerta à próxima maldade da irmã. O estado de terror é crescente e ficamos sem fôlego temendo pela próxima maldade de Baby Jane. O fato de Blanche estar indefesa na cadeira de rodas aumenta em muito nossa compaixão por ela. Sentimos de maneira poderosa que as duas se odeiam exatamente porque não podem se amar. E de que sentir mais pena? Da dor física ou da dor emocional? Um duelo de interpretações magníficas em que Davis venceu, sendo pela décima vez indicada ao Oscar. A sua Baby Jane é dos maiores personagens do cinema e responsável por cenas marcantes; numa delas Baby Jane serve o jantar de Blanche, quando esta levanta a tampa da bandeja encontra uma ratazana morta e grita horrorizada; Baby Jane está atrás da porta só esperando, quando houve o grito, começa a rir terrivelmente. Baby Jane se perdeu num passado distante e não quer sair dele; ela ainda se veste e se pinta como uma bonequinha. Ficamos consternados e com pena dela cantando como se ainda fosse criança I Writen a Letter to Daddy. Uma cena que nunca mais saiu da minha cabeça: Depois de cantar como criança, ainda em devaneios ela se depara com um espelho; ela vê a verdade; está velha e grotesca; não aceitando essa realidade ela começa a riscar o rosto com um lápis preto, como se destruísse sua própria imagem. Psicologia pura numa cena merecedora de Oscar. Amo demais esse filme e amo demais Bette Davis. Indicado aos Oscars de melhor atriz, ator coadjuvante, fotografia e som, venceu o de figurino.

Frases marcantes:

“Você não era feia. Eu a fiz assim.”

“Então esse tempo todo poderíamos ter sido amigas?”

Para quem quiser saber os detalhes das brigas entre Davis e Crawford, segue o link:

http://desvendandoestrelas.blogspot.com/2010/07/xi-bette-davis-as-brigas-entre-bette-e.html