Bem, confesso que nunca gostei de (Tropa de Elite, 2007) desde os primeiros minutos que “ouvi” umas falas do filme. Meu cunhado comprou o DVD pirata do filme e todos acharam que era um filme tipo meio ficção meio documentário, pois mostrava os “bastidores” do BOPE etc. Eu odiei o texto que vinha da sala (não gosto desse tipo de filme). Depois comecei a ver o filme por conta dos comentários e por causa das piadas, eu sou estudante universitário, então eu mesmo fiz várias piadas com aquela cena em que eles dão na cara do rapaz que diz que é estudante; eu dizia que aonde chegasse ia dizer que era estudante só pra apanhar, rsrsrs. Depois de um bom tempo o filme ficou famoso e entrou nos cinemas, sendo um grande sucesso, mas sempre o achei medíocre em qualidade e intenção, e critiquei esse endeusamento do BOPE, isso sim é ficção de primeira (tomara que o BOPE não leia este blog). Esse segundo filme (Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro, 2010), chega com grande preocupação com a pirataria que fez a fama do primeiro. Foi uma surpresa. O filme é bom, muito superior ao primeiro e não porque diminuiu na truculência, mas porque capricharam no roteiro. É um roteiro à guisa do cinema americano (não que isso seja sinal de qualidade), bem amarrado e com desfecho interessante. Uns fatos e teorias são bem bobos, como aquela conta que o professor de história faz no começo e o fim do tráfico; aquela conta é feita desde que o mundo é mundo e só pode ser observada na teoria, e o tráfico (vício) acabar é uma utopia, até na ficção soa no mínimo ingênuo. Gostei da câmera voando (travelling) sobre Brasília no final da película, indicando a fonte do MAL. Enfim, gostei do filme, tem ação discreta, bom roteiro, edição ágil, direção mediana e elenco esforçado. Sobre a violência, falei que era menos truculento, mas não menos violento. A violência não vem só de imagens de corpos levando tiros e sangue na tela, mas sim da força de um texto ou do contexto de uma imagem; a cena do bandido arrancando os dentes de um crânio para dificultar o reconhecimento, me pareceu, pela banalidade da ação, muito mais violenta que qualquer cena de tiroteio do primeiro filme; e a cena ainda brinca com o famoso trecho do Hamlet. O filme grita com os traficantes, com os políticos, com o sistema e bandidos em geral, os acusa francamente, e sabe qual é o grande absurdo de tudo? Os traficantes, políticos e bandidos em geral, vêem o filme, são fãs, e até torcem pelos mocinhos; ignoram que estão sendo retratados na tela, não acham que é com eles, talvez por não acharem que fazem algo errado na vida real ou então por um cinismo absoluto. Isso acontece muito com as músicas do grupo Racionais, os fãs do grupo, os que mais cantam as músicas, são justamente os acusados nas letras, eles não se dão conta disso, pelo contrário, acham que é um tipo de louvor a tudo que fazem. Há um humor sempre bem-vindo, aliviando a barra pesada, e este humor se manifesta principalmente no uso de palavrões e gírias: “pombagirando”, “quer me foder, me beija”, são exemplos. Quanto ao didatismo do filme, que acontece com a narração do Nascimento, esse é um filme para o povão, então eles usam o didatismo, aprendido no cinema americano, já visando ou imaginando o tipo de público que terão. O didatismo é usado com brilhantismo nos filmes do Tarantino, e se outros realizadores não conseguem alcançar o mesmo brilho, pelo menos houve uma fagulha de boa intenção. E ao título dizer que o inimigo agora é outro, não cabe a pergunta: E antes não era? Bem, acho que o filme deve ser visto, pois rende bons debates e isso é raro no cinema de hoje, mormente o nacional. Ah... ia esquecendo: a morte do Matias foi um deleite para mim.
Ótima resenha, Danilo! Já conversamos a esse respeito, então só quero reafirmar que concordo com o que você disse sobre qualidade do filme e, ao mesmo tempo, sobre o excessivo tom didático de algumas passagens dele. Também prefiro quando a violência desemboca no humor, mas não pude deixar de vibrar com a cena em que o capitão Nascimento desce porrada naquele cara. Quem era mesmo o cara? Não importa - também fui atingida por essa catarse melodramática para o povão.
ResponderExcluirBjs
Dani