quarta-feira, 16 de março de 2011

“Quer saber o que eu gosto em você? Você me rejeitou”.







Azul Escuro Quase Preto (Azuloscurocasinegro, 2006), um interessante filme espanhol com toques a lá Almodóvar, mas toca predominantemente no tema da crítica social, sugerindo mais do que dando soluções. Não é um filme muito conhecido, apesar de ter ganho muitos prêmios; talvez o tenham achado pessimista demais, depressivo demais, filmado de forma muito realista, um realismo tão puro que incomoda quem quer ver mesmo a verdade um pouco maquiada.

Personagens: Jorge, um jovem ético, inteligente, bonito e infelizmente pobre; prestes a correr atrás de um futuro melhor, se vê obrigado a cuidar do pai inválido; ele fez Administração e se esforça para mudar de vida, mas suas tentativas são baldadas; é triste vê-lo sempre desejoso daquele terno na vitrine; é triste vê-lo ter vergonha de seus dentes separados e de ser porteiro; é doloroso ver sua alegria e juventude podadas. Antonio, irmão mais velho de Jorge, está preso e tenta ter um filho com Paula, outra presa; suas ambições para o futuro são morar com Paula e abrir uma vídeo locadora. Paula, bonita moça, presa atormentada por suas companheiras; ela deseja engravidar a todo custo, seja para escapar de suas molestadoras, seja para suprir a falta de uma filha que já na barriga não vingou. Israel é um jovem desocupado que vive espiando com seu binóculo o trabalho de um massagista; esse massagista faz favores sexuais aos clientes, sendo um deles o pai de Israel; logo Israel, com algum conflito, se vê outro cliente.

Essas histórias vivem se encontrando no sentido de mostrarem afinidade entre os personagens, mostrando pessoas ávidas por liberdade, mas ambas presas, enganando a si mesmas quando pensam no futuro com otimismo. Almodóvar é lembrado por temas como homossexualidade, pelo absurdo de algumas situações e pela mescla de drama e comédia na mesma dosagem, quer dizer, as situações são engraçadas não porque filmadas como comédia, mas pelo seu absurdo.

O filme é o primeiro trabalho do diretor Daniel Sánchez Arévalo, que também é responsável pelo roteiro. O elenco é ótimo, a começar pelo Quim Gutiérrez, talentoso, de causar pena em algumas cenas e belo apesar dos dentes separados. Marta Etura é uma atriz que ainda vai dar o que falar, bonita e com rosto muito dramático.

O belo título original, Azuloscurocasinegro, é uma palavra só porque o caso aqui não é de gradação, não é um azul escuro tornando-se preto, e também não é como a palavra italiana “chiaroscuro” que mostra um jogo de opostos; azuloscurocasinegro é um tom triste, frio e constante na vida desses personagens; um tom apenas...

2 comentários: