Esse menino que corre
de bicicleta no meio da rua, entre carros, nos afligindo, o que ele quer?
Sabemos o que procura, mas o que quer? Paz, carinho, segurança, proteção? Ou a
soma dessas coisas: amor? Até onde o peito de uma criança consegue seguir oprimido?
Os irmãos Dardenne, muito premiados em Cannes, voltam com sua maneira
costumeira de filmar, altamente emotivos, mas de forma direta como um soco;
esse soco às vezes é de um pugilista, estudado, nos fazendo perceber as mãos
dos diretores, nos deixando concluir um raciocínio; às vezes é um soco de
criança, que nos pega de surpresa, nos deixa sem ação, à mercê daquele
sentimento de impotência, notando que é assim mesmo que tantas vezes uma mente
imatura não encontra qualquer tipo de linguagem para dizer que sofre. Em O Garoto da Bicicleta (Le Gamin au Vélo, Bélgica, 2011) há
economia de tempo, de trilha, tudo enxuto, na medida certa. As interpretações
são competentes, com destaque para Thomas
Doret, que ou está sendo ele mesmo ou é um fenômeno infantil da
interpretação; mesmo se tiver muito dele mesmo no personagem, o mérito
continua. A última vez que vi uma angústia assim num personagem criança foi no
ótimo Nó na Garganta, filme do Niel Jordan. Essa criança não foi destruída porque
alguém acreditou nela, não desistindo de cara ante a personalidade difícil do
garoto. É um filme bonito, ensolarado, mas a emoção que passa é de tempestade.
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