sábado, 21 de abril de 2012

O Garoto da Bicicleta


Esse menino que corre de bicicleta no meio da rua, entre carros, nos afligindo, o que ele quer? Sabemos o que procura, mas o que quer? Paz, carinho, segurança, proteção? Ou a soma dessas coisas: amor? Até onde o peito de uma criança consegue seguir oprimido? Os irmãos Dardenne, muito premiados em Cannes, voltam com sua maneira costumeira de filmar, altamente emotivos, mas de forma direta como um soco; esse soco às vezes é de um pugilista, estudado, nos fazendo perceber as mãos dos diretores, nos deixando concluir um raciocínio; às vezes é um soco de criança, que nos pega de surpresa, nos deixa sem ação, à mercê daquele sentimento de impotência, notando que é assim mesmo que tantas vezes uma mente imatura não encontra qualquer tipo de linguagem para dizer que sofre. Em O Garoto da Bicicleta (Le Gamin au  Vélo, Bélgica, 2011) há economia de tempo, de trilha, tudo enxuto, na medida certa. As interpretações são competentes, com destaque para Thomas Doret, que ou está sendo ele mesmo ou é um fenômeno infantil da interpretação; mesmo se tiver muito dele mesmo no personagem, o mérito continua. A última vez que vi uma angústia assim num personagem criança foi no ótimo Nó na Garganta, filme do Niel Jordan. Essa criança não foi destruída porque alguém acreditou nela, não desistindo de cara ante a personalidade difícil do garoto. É um filme bonito, ensolarado, mas a emoção que passa é de tempestade. 

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