quarta-feira, 3 de março de 2010

500 Dias Com Ela


O texto do filme explora todo o linguajar e comportamento das fases da paixão, desde o enamoramento até as fases de desespero (não esquecer que paixão vem de pathos e Freud lhe enfatiza mais essa característica). A história mostra o que resulta tantas vezes do envolvimento de uma pessoa romântica com outra avulsa na vida. Ele é simpático; ela é linda. As situações são sinceras e copiam fielmente o prosaísmo da paixão. Ela é dessas pessoas por quem é muito fácil se apaixonar; linda, moderna, livre. Ele é o carente por afeto e facilmente se acostuma a estar junto do seu objeto de adoração, o que o leva à dependência. O apaixonado tem sempre a certeza de que os dois juntos são perfeitos e o outro não vê isso. Até que com a separação e o posterior desapego, ele vê que o outro tinha mesmo razão. Mas antes do desapego há o mau humor, o despeito com outros casais apaixonados; engraçado que o chefe de Tom lhe diagnostica o estado de espírito (tristeza, sofrimento, falta de fé e de motivo para viver); terríveis sintomas de quem sofre de paixão. Com o desapego enxerga-se melhor as mentiras do outro. A avulsa na vida, Summer, aversa a compromissos, casa-se rápido com outro; mostrou-se uma mentirosa, talvez uma mentirosa não apenas para Tom, mas para si mesma. A descoberta das mentiras ajuda na volta por cima e a vida continua. Talvez algo melhor aconteça. Talvez. Pois como disse o filósofo Karl Popper “A certeza não está disponível”. 500 Dias com Ela ((500) Days of Summer, 2009) rende análises psicológicas ao comportamento dos dois personagens; Tom como um sujeito que passa a viver em função de sua amada, e Summer, como alguém que tem dificuldades em se relacionar e aceitar vínculos, e seus motivos para isso, podem ser de diversas ordens e profundidades; quando, no inicio do filme, o narrador diz que ela só adorava duas coisas na vida, seus longos cabelos negros e a facilidade que tinha em desfazer-se deles sem nada sentir, já nos diz muito sobre sua personalidade. O mesmo narrador nos informa que esta não é uma história de amor. Tive justamente essa impressão e ia escrever que esta não é uma história de amor, mas uma história sobre amor; ao escrever este comentário, procurando o pôster do filme para ilustrá-lo, deparei-me com um pôster alternativo que dizia mesmo isso. O visual do filme é bacana (o diretor Marc Webb tem longa experiência em dirigir vídeos) e tem boas sacadas como a homenagem a Bergman e a divisão da tela em expectativas/realidade; há um momento em que as expectativas acabam só restando a dura realidade. Depois do belo, mas também árduo Verão (Summer), eis que surge uma esperança de refrigério com o Outono (Autumn). Boa trilha sonora, com destaque para a linda canção francesa “Quelqu'un m'a dit" na voz de Carla Bruni.

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