quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Kissed

Saudosos tempos aqueles em que havia sessão de arte no cinema São Luis aqui de Recife. Sempre solitário, vi muitos filmes interessantes. Lembrança especial tenho de um filme especial: Kissed – Cerimônia de Amor (Canadá, 1997). Este filme independente e pouco conhecido, causou polêmica nos festivais que participou por tratar da necrofilia. Foi um ano de produções com temas pesados no Canadá; houve Crash – Estranhos Prazeres, do David Cronenberg, e O Doce Amanhã, do Atom Egoyan. Kissed é a história de Sandra Larson, uma jovem que desde cedo apresenta forte inclinação por cadáveres; há uma cena de impacto dela em um ritual com um esquilo esmagado. Mas tarde essa irresistível inclinação leva-a a trabalhar numa casa funerária, onde desenvolverá romanticamente seus enlaces com cadáveres de homens jovens e bonitos. Há um envolvimento com um rapaz “vivo” como uma tentativa de normalização (lembro aqui que a necrofilia está dentro de uma parafilia). Kissed é o primeiro longa dirigido Lynne Stopkewich; por tratar de tema tão incomum e nebuloso, foi feito com dinheiro do próprio bolo da diretora. Em entrevista da época do lançamento, lembro-me de ter lido a diretora afirmar que no conto original a Sandra, uma freak, era muito mais fria e a história continha muito mais sangue, e que ela, diretora, decidiu abrandar o filme até onde deu, para que não ficasse insuportável. Lynne conta, também, que não procura explicar Sandra como o conto faz através da família; no filme, Sandra é o que é e ponto final. Apesar da morbidez do tema, o filme é surpreendentemente bonito e muito poético. Há uma feérica luz no ar quando Sandra beija docemente seus silentes amantes. A história é baseada no conto de Barbara Gowdy chamado We So Seldom Look on Love “Raramente Nós Abordamos o Amor” (obs.: traduzi livremente). Também tem um pouco do “Poema à Necrofilia” de Frank O’Hara, e um pouco de um artigo de um jornal da Califórnia, que chocou, com a notícia de uma jovem que seqüestrou um carro funerário com um jovem defunto em seu caixão e o levou para um motel; lá fez sexo com o cadáver por dias até ser descoberta e presa. Gostaria de ter lido o artigo, o poema e, principalmente, o conto.

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