sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

"It didn’t kill me"



Com Wild Tigers I Have Know acompanhamos um pouco da vida de Logan, um menino de 13 anos, que está passando por várias descobertas, a do corpo, a da identidade sexual e a do amor. Justamente numa das fases mais difíceis da sua vida, ele não tem ninguém (adulto) com quem possa se abrir e encontrar apoio. Não se deve esperar que a procura da comunicação venha apenas por parte dos jovens; é mais difícil para eles; os adultos é que deveriam estar sempre atentos à chegada dessa fase. O filme retrata muito bem, as indefinições, o isolamento e os desejos que povoam a cabeça do sensível Logan, o menino muito especial e inteligente, que se isola num mundo só seu (já que este não o merece), onde ele pode ser como verdade, onde pode sentir prazer, se impor e até morrer. Logan sente uma paixão por Rodeo, um rapaz bonito, mais velho e isolado como ele. Esta paixão o preenche totalmente. Em certo momento Logan cria uma persona, Leah, e, como tal, liga para Rodeo e propõe sexo-fone. Logan, de cara limpa, usa uma voz, um nome e uma identidade que não são dele. Então, num outro momento, ele põe batom e peruca loura, e quando liga para um amigo, fala com sua voz e diz seu nome verdadeiro. Bela sacada psicológica. Cam Archer teve muito tato ao mostrar os detalhes da adoração de Logan por Rodeo (até num sabonete contendo pêlos de Rodeo), um amor tão intenso quanto ingênuo. Logan vai seguindo sozinho, seu caminho de superação (It didn’t kill me, escrito em sua barriga), sempre fazendo suas acertadas escolhas. Há um momento homenagem a Nina Simone, numa música que fala exatamente disso, da juventude e suas escolhas. Tudo isso é mostrado com muitas sutilezas (há muita coisa apenas sugerida, onde temos que dar nossa interpretação), e o mundo para onde Logan vai, quando quer ser ele mesmo, é mostrando de maneira surreal e poética. No final melancólico, Logan se despede de nós e torcemos para que ele seja muito feliz.

Wild Tigers I Have Know é um filme independente, que passou com muitos aplausos pelo Sundance Film Festival. O menino Malcolm Stumpf, que faz o Logan, é um jovem ator expressivo e interessante, que faz um bom trabalho no filme. Cam Archer (estreando em longas) dirige seus jovens atores com bom senso, fazendo-os personagens calados e isolados em seu mundo, mas nem por isso tratando-os com autistas, coisa que vemos nos trabalhos fetichistas de Gus Van Sant. Aqui, para o bem do filme, Gus Van Sat atuou somente como produtor.

A trilha sonora, como era de se esperar, tem cores tristes, e a música que encerra o filme tem o mesmo título dele Wild Tigers I Have Know. Quem canta é a pouco conhecida Emily Jane White. Encontramos a música tanto na trilha do filme, quanto no álbum da cantora Dark Undercoat. O estilo desse álbum foi chamado de folk sombrio. A cantora diz que sua inspiração vem de escritoras como Emily Brontë e Sylvia Plath, e musicalmente de PJ Harvey, se bem que ela é mais comumente comparada a Cat Power. O próprio Cam Archer é quem dirige os vídeos da cantora.

Sobre o Cam Archer, ele é um diretor que, como Gus Van San, tem uma predileção pelo tema do amor entre meninos. Isso ocorre também em documentários, Gus Van Sant fez um sobre Kurt Kobain (que não era adolescente) e Cam Acher fez dois documentários em curta metragem, um sobre River Phoenix e outro sobre Jonathan Brandis (mais conhecido por História sem Fim 2), ambos cometeram suicídio (River, morreu de overdose, mas alguns dizem que a overdose foi o caminho). A direção dele lembra um pouco a do Gus Van Sant, embora ele pareça ter mais bom senso.

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