domingo, 28 de fevereiro de 2010

A felicidade só é real quando compartilhada





Foto do verdadeiro Christopher Johnson


Baseado numa história real, o filme, Na Natureza Selvagem (Into the Wild, 2007), mostra as aventuras (só entendo como aventura) de Christopher Johnson McCandles, numa viajem (em 1990) em busca de si mesmo. Essa viagem, para ele, tem de ser feita no isolamento da natureza, elemento ainda puro num mundo cheio de homens corrompidos. Seguindo um idealismo particular e tirando alento dos escritos de Tolstoi, London e, principalmente, Thoreau, ele abandonou tudo, numa viagem com destino ao Alasca. Chris doa seu dinheiro, rasga os documentos e tenta se integrar na natureza e esta lhe ensina a duros golpes que o Homem é um ser social. Há um problema no filme, a indecisão na condução (Sean Penn) da história. Há uma indecisão sobre a concentração do foco ou no emocional do personagem principal ou na estética do filme. Como a ação se passa na natureza, notamos que há uma necessidade constante de mostrá-la, numa idealização estética que faz o filme se perder em contemplação. Em outros momentos, o foco se volta para o personagem em sua crise de identidade. Não uma crise que ele sinta enquanto personagem, mas uma crise surgida devido a outra indecisão da direção. O autor do livro em que se baseou o filme, Jon Krakauer, se apoiou apenas em curtos registros, pequenas frases que o Chris deixou escritas e do que descobriu conversando com as pessoas com quem Chris teve contato na viagem e visitando os locais em que Chris esteve. Então não há como saber como se deram todos os acontecimentos reais. Em certo momento, dentro do ônibus abandonado, Chris descobre um nome "Alexander Supertramp". Ele assume o nome para si, assumindo uma identidade que não é a sua, mas que ele gostaria que fosse. A narração da irmã de Chris, mostra ele como um rapaz com sonho e ânsia de liberdade. Enquanto que Alexander Supertramp é o irresponsável que foge a tudo e vive ao léu no meio do mato. Uma análise profunda talvez troque as posições e revele uma verdade mais triste, um Chris egoísta, misantropo e superficial (opinião que o povo do Alasca até hoje tem dele), enquanto Alexander Supertramp seria o verdadeiro sonhador e amante da natureza, já que nenhum trauma torvava sua alma; pois, Chris tinha antigos desagravos com os pais e isso o perseguiu a vida toda, até um ponto que ele teve que fugir. Então, seria essa viagem um ato de liberdade ou uma fuga de um rapaz magoado e tomado de revolta juvenil? Essa indecisão ou indefinição de personagem complicou o fator verossimilhança do filme. Há muitos momentos em que fica no ar um sentimento de que a história está mal contada de tão inverossímeis que são algumas atitudes do personagem. Tirando isso, é um bom filme.
Tudo é mostrado com beleza e poesia, apoiadas na trilha sonora do Eddie Veder e na fotografia do Eric Gautier (responsável pela fotografia de Diários de Motocicleta). A estrutura do filme é muito interessante, assim como a ótima edição. O elenco é muito bom. Destaque para Emile Hirsch, Catherine Keener e Hal Holbrook. O filme não ganhou nem foi indicado a nenhum prêmio importante e isso dá o que pensar.

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